quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Nem só de peixe vive a aquicultura

Com instalação da depuradora de ostras em Coruripe, são criadas novas perspectivas de negócio nesse setor em Alagoas

Maria Barreiros - 7º período Jornalismo

Às cinco da manhã ela já está de pé, vai à beira-mar para repor, virar, recolher as ostras que não cresceram, retirar sujeiras ou impurezas e finalmente tirar da mesa de cultivo e começar o trabalho de desencaixamento, até as quatro ou cinco horas da tarde. No entanto, se a maré mudar e começar a encher, é preciso recolhê-las para fazer o desencaixamento em casa. Essa é a rotina de dona Edite e de vários ostreicultores, de segunda a segunda, inclusive domingos e feriados, em Barreiras, no município de Coruripe.

Dona Edite Lessa é a presidente da Associação de Ostreicultores de Barreiras de Coruripe (Aobarco) e relatou como é o trabalho diário para quem cultiva e produz a ostra. “As sementes são capturadas por meio de coletores – garrafas pet, pedaços de PVC – no mangue. Em torno de 15 dias elas se grudam nos objetos. Depois são colocadas nas mesas de cultivo, permanecendo lá por aproximadamente oito meses. Tempo necessário para o desenvolvimento e engorda dos moluscos que precisam chegar a oito centímetros para serem vendidos,” explica.

Até poucos anos atrás os ostreicultores enfrentavam outra dificuldade: a fragilidade das mesas de cultivo. Essas eram feitas com varas de madeira, tela e plástico. Segundo o coordenador do Projeto de Ostreicultura no Litoral de Alagoas, do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o agrônomo Manoel Ramalho, a madeira se deteriora em menos de seis meses e, apesar de ser fácil de conseguir na natureza, são retiradas dos mangues, o que é proibido, por causar a insustentabilidade daquele ambiente.

“As mesas medem um metro de largura e dois e meio de comprimento, dispõem de telas, na parte superior e inferior e são feitas de PVC, material resistente e eficaz, evitando o gasto de madeira e retrabalho dos ostreicultores, além de evitar a degradação dos mangues,” completa.

Gestão, associativismo, tecnologia e ações de mercado

Em 2001 o Sebrae iniciou a atuação nesse setor com o Projeto Estuarinas de Alagoas. O objetivo foi desenvolver a aquicultura sustentável. Em 2002, para facilitar o apoio aos pequenos produtores e acompanhar a instalação dos primeiros módulos de cultivo, foi contratado um especialista em Maricultura, que capacitou, por meio de cursos e seminários, a maioria dos produtores. “Implantamos as unidades na Barra de São Miguel e Coruripe, depois expandimos para Passo de Camaragibe e Porto de Pedras e hoje 11 municípios são contemplados,” comenta Ramalho.

De acordo com dona Edite, a mudança das mesas de cultivo de madeira para as de PVC foi o avanço que eles precisavam. “O Sebrae fez a intermediação para que a Eletrobrás e o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS) doassem essas mesas de cultivo para a gente e assim nosso trabalho está garantido. Embora seja pouco, é uma renda mais certa,” afirma.

Manoel Ramalho explica que essa tecnologia foi inserida na produção das ostras em todos os módulos de cultivo. O que não foi possível através de doação, foi financiado no Banco do Nordeste, pelos próprios ostreicultores, conforme nossa orientação,” explica o coordenador do projeto.

Alagoas conta hoje com quatro grandes áreas de cultivo de ostras. Barra de Camaragibe, em Passo do Camaragibe, Porto de Pedras, Palateia, na Barra de São Miguel e Barreiras, em Coruripe. “A produção de ostras é de boa qualidade, além de colaborar para o desenvolvimento sustentável dos municípios”, confirma Ramalho.


Crédito: Maria Barreiro
 Ostreicultura: cultivo ecologicamente correto

A produção de ostra é apoiada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e outros órgãos ambientais porque é uma espécie nativa da região e seu cultivo é ecologicamente correto. Ele evita a degradação do meio-ambiente, que acontece, por exemplo, com o extrativismo.

Outro fator positivo, nessa atividade econômica, é a alimentação do molusco. A ostra se alimenta apenas de organismos planctônicos, que são pequeninas algas abundantes nesse tipo de bioma aquático. Com isso não é necessário no cultivo, o gasto com insumos, como é o caso da piscicultura, com as rações. Além disso, é um animal filtrador, que limpa a água, atraindo peixes e camarões para toda a área.

Nova perspectiva para o negócio

A inauguração da depuradora de ostras no município de Coruripe em 2011, trouxe novas perspectivas para os produtores e os que comercializam o molusco em Alagoas.

De acordo com Manoel Ramalho, o ideal para o mercado é que a depuradora fosse construída na Barra de São Miguel, por ser considerada a maior cultivadora do Estado e até do Nordeste, no entanto a prefeitura não conseguiu disponibilizar em tempo hábil, um terreno com as características exigidas pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), a investidora do empreendimento. “Dessa forma, a depuradora foi escolhida para ser em Barreiras, porque além de ter um bom cultivo do molusco, a área para a construção fica em frente ao mar, o que foi uma das exigências da agência espanhola, e como a prefeitura de Coruripe encontrou e cedeu o terreno, ficou mais fácil,” esclarece.

Crédito: Maria Barreiros
Para a ostreicultora e vendedora de ostras nas praias de Coruripe, dona Maria José dos Santos, a expectativa da depuradora funcionar é grande. O retorno esperado é de receber pelo menos um salário mínimo, depurando mil ostras por mês. “Não vejo a hora de começarem a limpar as ostras, com a depuração. Porque depois de limpas, elas vão ter um selo, e nós, produtores vamos vender em maior quantidade, vai ser mais valorizada e poderemos cobrar mais caro por ela, aumentando nossa renda que não passa de R$ 100 por mês,” conta.

Para o superintendente da Secretaria de Estado da Pesca e Aquicultura (Sepaq), o oceanólogo, Ricardo Nonô, testes estão sendo realizados para comprovar a higienização com relação ao ambiente e a eficácia na depuração das ostras. “Só podemos garantir o pleno funcionamento da depuradora, em dezembro de 2011, porque precisamos nos certificar de que o maquinário e as instalações estão de acordo com as normas corretas de funcionamento. Com ela funcionando, vamos aliar qualidade, segurança alimentar, além de agregar mais valor ao produto,” explica.

Ainda segundo o oceanólogo, com a chegada de novos materiais, equipamentos e assistência técnica, a previsão é produzir 200 mil ostras depuradas, somente no ano de 2012. Cerca de 150 famílias, que vivem do cultivo do molusco no Estado também serão beneficiadas. Principalmente com a inclusão do Selo de Inspeção Estadual (SIE) no produto, para formalizar a comercialização formal.

De acordo com dona Edite, a prefeitura de Coruripe tem ajudado porque mantém funcionários na depuradora, mesmo sem o pleno funcionamento. “Hoje têm dois vigias, um serviçal, um motorista, para o carro que conseguimos por meio de emenda parlamentar. Além disso, atendemos ao público das 8 às 11h e no período da tarde das 13 às 16h,” detalha. Segundo dona Edite, a limpeza das ostras ainda é realizada uma a uma, através de escovas. Ricardo Nonô informa que, até o pleno funcionamento da depuradora, as ostras devem continuar sendo limpas dessa forma.



Expectativa de novo tempo para o segmento


Crédito: Edson Maruta
 Com a recente criação da Secretaria de Pesca e Aquicultura no Estado, especialistas no assunto podem contribuir com assistência técnica na ostreicultura. Prova disso é a integração com a Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Outro exemplo são os técnicos da Sepaq e Sebrae que, mensalmente, levam ostras para serem analisadas e saber se estão nutricionalmente corretas e próprias para consumo humano.

Ricardo Nonô também adianta que está sendo realizado estudo para viabilização de projetos junto ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Essas ações envolvem fomento no cultivo de ostras, a aquisição de sementes de ostra, de materiais e equipamentos, além do investimento em novas tecnologias para o aumento da produção do molusco.



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