quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Aribama: Artesanato reciclável e turismo ecológico gera renda para a comunidade de Tatuamunha

Texto e Fotos: Fabyane Almeida -  8º período Jornalismo 

Uma ideia e várias ações. Foi o suficiente para mudar a realidade de 23 famílias da pequena comunidade de Tatuamunha, localizada há 110 quilômetros de Maceió, em Porto de Pedras. O reaproveitamento da garrafa pet e os passeios de observação para os turistas conhecerem o  peixe-boi, além de gerar renda para a comunidade criou um consciência ambiental baseada nos princípios de cuidar do bem natural.

Conhecida por poucos, a Associação dos Ribeirinhos Amigos do Meio Ambiente (Aribama), foi idealizada pelo presidente Cícero de Oliveira, há 5 anos, mas constituída como associação há apenas 3, quando ganhou novos rumos. “De início a ideia era apenas realizar os passeios com os turistas para que eles pudessem ver os peixes-boi, mas quando a maré baixava viamos à quantidade de lixo e garrafas que tinha nas margens do rio, então passamos a limpar para depois realizarmos o passeio”, contou Cícero.

“Começamos então a conscientizar os pescadores para não jogarem lixo no rio. Encontramos as garrafas e pensamos em como reutilizá-las, daí surgiu à arte reciclada. Agregamos primeiros os pescadores, depois as pessoas que não tinham emprego, alternativa como fonte para gerar renda. O nosso objetivo era mostrar que a garrafa pet pode ser transformada em arte e isso nos conseguimos”.

PRODUÇÃO RECICLÁVEL DO ARIBAMA

Foi com a intenção de limpar o Rio Tatuamunha que Cícero e um grupo de amigos começaram a recolher as garrafas pets que ficavam a margem do rio quando a maré baixava, mas ele mesmo notou que a própria garrafa poderia ser reutilizada gerando renda para muitas famílias. "Nós cuidamos do meio ambiente através da reciclagem da garrafa pet, com passeios de observação do peixe boi e conscientização ecológica nas escolas através de oficinas que fazemos os alunos das escolas estaduais e municipais da região: Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres e das redondezas”.

Artes Aribama
A produção de arte varia entre R$ 3,00 a R$ 50,00, já foi para fora do Brasil e isso já se tornou algo frequente. De acordo com Marcos da Silva, diretor do Aribama, existe uma variedade de produtos que os artesões produzem com a garrafa pet. “Produzimos vassouras, fios, redes de vôlei, flores, globos, luminárias, curtinas, borboletas, carrinhos de brinquedo. Já com as garrafas amassadas que geralmente ninguém usa, nós transformamos em peixe e cavalo. Várias peças já foram para: Dinamarca, Holanda, China, Espanha, Portugal, Itália, Coreia, Japão. Sem contar que no vestido usado pela miss Alagoas, no concurso do miss Brasil foram produzidos pelo Aribama 220 flores de pet que ficaram presas no vestido”, explicou.

Uma garrafa pet faz 20 metros de fio rede e 55 metros de linha 10 de pesca comum. “Nós já conseguimos enviar duas redes para o Flamengo no Rio de Janeiro, eles vão testar a resistência da rede, se aprovada será utilizada em toda estrutura. A pet é mais resistente que o nylon comum”, enfatizou Cícero de Oliveira.

 A estrutura da Associação é pequena, a maioria dos trabalhos são feitos a mão, apenas as vassouras são confeccionadas em máquinas artesanais, mas todos buscam melhores condições de trabalho e máquinas mais modernas para inovar nas artes. “Estamos entrando em contato com uma empresa no Japão para que haja a doação de uma máquina que produz uma fibra da pet e essa mesma fibra é transformada em tecido. Isso seria inovador no nordeste”, contou o presidente do Aribama.

A comunidade de Tatuamunha é consciente ecologicamente. “Trabalhamos também com a fibra da bananeira e com a palha do ouricuri que são alternativas de geração de renda. Nós também recebemos doações das garrafas dos restaurantes, pousadas, prefeituras e da própria comunidade que junta em suas residências”.


Marcos da Silva

Segundo Marcos da Silva, diretor do Aribama, todo o faturamento é dividido pelos associados. “São retiradas as despesas da associação, projeta-se as despesas do próximo mês e o saldo é dividido entre os associados, que participam da produção, tudo é rateado por igual. De março a setembro gira um faturamento em torno de R$ 10 mil, já de outubro a março o faturamento aumenta um pouco por ser um período de férias e alta temporada”, concluiu Marcos.


IMPORTÂNCIA DE QUEM PARTICIPA

A comunidade de Tatuamunha é conhecida pelo trabalho que é realizado no Aribama, para o artesão Nilton da Silva, que antes vivia da pesca e de mergulho, a associação transformou famílias. ”Estou na associação há 4 anos e aqui passei a ter uma renda fixa, minha vida melhorou bastante. Chovendo ou fazendo sol nós sempre trabalhamos com o nosso artesanato, passeio do peixe-boi e piscinas naturais. Além de tudo que ganhamos é dividido em partes iguais. Enquanto me reconhecerem como integrante do Aribama pra mim é tudo”, contou Nilton.


Cristiano Francisco
 Já para Cristiano Francisco, que acompanhou desde o início do Aribama, a Associação é importante. ”Estou no Aribama desde o seu surgimento, acompanhei todos os cursos e parcerias. O artesanato na comunidade melhorou em tudo”. O mais novo associado, Eduardo José, que já aprendeu a fazer arte. “Estou há um mês e já aprendi a fazer, o globo, chocalho, cortina. O reconhecimento dos clientes é muito bom, a melhor parte”.
De acordo com a artesã, Anna Lúcia Santos, que antes não trabalhava, existem artes fáceis e difíceis para aprender ainda. “Estou aqui há 4 meses e o bom é porque aqui eu aprendo sobre educação ambiental, ecológica e como reciclar de maneira correta. É uma ótima experiência que vamos aprendendo com o dia-a-dia. Já sabia da existência da associação, mas nunca tinha vindo antes, passei de convidada para ser uma associada também”.

Outro artesão que também se orgulha de fazer parte do Aribama é o Adeilton Santos, que já está há 2 anos
na criação. “Trabalho mais produzindo a luminária, as flores, borboleta, joaninha, jogo americano, o peixe, o carrinho, as cortinas, peças de cabelo. Tinha semana que ficava parado aqui comecei a me desenvolver. É um trabalho que eu gosto, porque nós recolhemos do rio e da praia, já limpamos, fazemos a nossa parte. Os paulistas falam que nós precisaríamos ir ao rio Tietê, por conta da nossa ação, da nossa causa, acham muito legal e serve como exemplo”, explicou feliz.