sexta-feira, 27 de abril de 2012

Patrimônio público de quem?

por João Victor Acioly


Do alto, a estátua em bronze de João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, o Visconde de Sinimbu, observa envergonhado o descaso daquela que leva seu nome. Refém de mendigos, assaltantes e feiras ilegais, a Praça Sinimbu se tornou local de presença desconfortante para visitantes e turistas, e principalmente para moradores e equipamentos culturais em seu entorno. Mas nem sempre foi assim.

Com mais de 100 anos de história, a praça foi símbolo de modernidade e ícone da arquitetura, onde famílias passavam os domingos a apreciar as sessões musicais do coreto e a sinuosidade de esculturas de figuras mitológicas. Em outros tempos, após redesenho na administração do prefeito Sandoval Cajú, a fonte do Menino Mijão, bancos e brinquedos em marmorite e painéis com mosaicos em forma de coqueiro, jangada, pescador, entre outras amostras da identidade alagoana, ainda tornavam convidativo o ambiente.

Fora da rota da administração pública desde 1992 – datada a última restruturação, durante a gestão Pedro Vieira –, o local sofre há alguns anos com um problema de maior abrangência: o acampamento de trabalhadores rurais. Sem o mínimo de saneamento, limpeza urbana e segurança, famílias passam semanas locadas na praça para cobrar ações e pressionar a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a tomar uma atitude. Desta vez a situação é realmente preocupante. Parte das famílias despejadas do Acampamento Cavaleiro, em Murici, estão acampadas na praça desde janeiro de 2011 e contribuem para a sujeira e depredação de território público.

O que se vê, no entanto, não é culpa exclusiva do Movimento Sem Terra (MST). Aimê Merine, coordenadora do acampamento, afirma que a limpeza urbana deixou de ser feita logo após a ocupação dos trabalhadores rurais na praça e só voltou a ser realizada no fim de fevereiro. A manutenção até então era feita pelos “moradores”, a fim de preservar a própria higiene e adquirir produtos recicláveis para venda. “Aqui tem muito rato. Não podemos deixar uma vasilha aberta que corre o risco de aparecer ratos lá”, conta a líder do MST.

O espaço físico é dividido também com a Feira de Artesanato Guerreiros de Maceió, relocada para a Praça Sinimbu pela prefeitura, no fim de 2010. Sem visibilidade, a queda nas vendas é de 95% em comparação ao último ponto, no Jaraguá, e parte dessa baixa, acreditam os artesãos, deve-se à imagem negativa da ocupação. “O problema é o cartão de visita. É uma imagem ruim que já perdura por um ano e dois meses”, pontua a artesã Hélia Miranda.

Diretora da Pinacoteca Universitária, Geisa Brayner lamenta a ocupação do MST ainda não ter sido remediada e critica a falta de atividade dos órgãos competentes para solução do problema. “Pessoas moram aí, então eles sujam com comidas, com dejetos e a praça fica feia, depredada. Praça não é lugar para isso. É lugar para encontro, para embelezamento da cidade, e não para moradia, e isso afasta as pessoas desavisadas”, pontua. No entanto, ela garante que eles são pacíficos. “Honestamente, eles nunca incomodaram”, conclui Márcia.

Madalena de Oliveira, Coordenadora do Núcleo de Ação Educativa do Museu Théo Brandão, conta que o que incomoda é o trânsito e o mau-cheiro causado pelo lixo produzido pelas famílias. Mesmo com péssima imagem causada pelos Sem Terra, a situação parece não ter prazo para ser solucionada. Em novembro foi anunciada uma proposta de compra de quatro imóveis na zona rural para abrigar um total de 100 famílias, que deveria durar no máximo seis meses para ser concretizada. Os recursos destinados a esta aquisição somam R$13 milhões, nos quais 20% seriam dados pelo Governo do Estado e os outros 80% retirados do orçamento do Incra.

De um lado, o Governo já alertou que sua parte é muito maior do que pode ofertar; do outro, o plano orçamentário do Incra foi reduzido em 70% pelo Ministério do Planejamento. Os trabalhadores se recusam a desocupar a praça enquanto não forem relocados para uma terra na qual possam chamar de sua, enquanto a sociedade, já habituada, assiste a todo esse desrespeito e luta de bandeiras como boa refém que é.

Ameaça camuflada


Reserva florestal de Mata Atlântica do Parque Municipal sofre com a ação do homem

Por: Texto:  Roberta Cólen / Fotografia: Lays Peixoto


Parque Municipal proporciona tranquilidade aos visitantes

Um paraíso ecológico que concentra árvores centenárias, fauna e flora em abundância, lago com jacarés, animais silvestres, viveiro, seis trilhas ecológicas, riacho, além do ar puro e contato com a natureza. Toda essa diversidade está à disposição para visitas no Parque Municipal de Maceió, no bairro de Bebedouro.



  
A área, uma reserva florestal da Mata Atlântica, tem aproximadamente 82,4 hectares e recebe cerca duas mil pessoas por mês. Mas quem visita esse cenário não se dá conta dos problemas que ameaçam o local. A ação do homem tanto dentro da reserva como no seu entorno, tem causado danos que ainda não são percebidos pelos visitantes mais distraídos.

São inúmeros os problemas existentes no local que vão desde poluição e roubo de animais a invasão de bandidos e extração de areia do Riacho do Silva. A área do parque é muito extensa e não possui nenhuma proteção com muros ao seu redor, o que facilita ação de criminosos.


Esgoto e uma grande quantidade de entulhos poluem o Rio do Silva

Durante dois dias, a dupla de estudantes do curso de jornalismo observou as belezas naturais e flagrou a ação do homem contra o meio ambiente. Foram horas de caminhada, espera e de investigação onde foi flagrado um caminhão extraindo toneladas de areia sem licença; lixo jogado às margens do Riacho do Silva; árvores cortadas, aparentando desmatamento e também muita vida, que luta para sobreviver junto à degradação.


Funcionário reclama dos animais que são furtados do parque




Um problema que o Parque Municipal carrega é a falta de respeito que muitos visitantes têm com a fauna do local.

De acordo com o funcionário da reserva - que trabalha no local há mais de 14 anos fazendo vigilância e monitoramento dos visitantes – José Cariolando, animais são furtados do Parque Municipal, como é o caso dos passarinhos das mais variadas espécies. Um deles, conhecido como Xexéu, está ameaçado de extinção.

Na falta de educação e consciência ambiental, crianças e adultos jogam pedras em muitos bichos, e dão comidas inapropriadas colocando em risco a vida dos bichos que vivem soltos na mata. É comum jacarés – que tem em média dois anos - serem encontrados mortos boiando no lago que fica na parte interna do parque. Para esses óbitos a principal explicação dos responsáveis da área, são a quantidade de lixo e as agressões sofridas pelos animais.

Segundo funcionários, o parque por ser uma área grande dentro da cidade serve ainda, como esconderijo de criminosos que tentam se esconder da polícia. Como a fiscalização no local é pequena, feita por apenas seis funcionários, a área se tornou ponto fácil. Três vigias ficam na portaria, um circula pela reserva e os outros dois ficam em uma casa de vigilância na área dos fundos do parque.

Na tentativa de garantir a segurança no local, uma moto foi disponibilizada para ajudar os vigilantes a percorreram com mais agilidade o parque, mas o veículo está parado por não ter gasolina. Para tentar inibir a ação dos bandidos, a Polícia Militar (PM) faz rondas a cada duas horas. Como o parque não tem câmeras é necessário que os visitantes passem por um “cadastramento”. O vigilante anota a placa do carro e a quantidade de pessoas que estão dentro do automóvel.

As alunas entraram em contato com a empresa J.A. Construções, mas a funcionária Andréia não soube informar da onde que a areia vinha ou se era licenciada. De acordo com ela, nenhuma pessoa da loja que pudesse falar sobre o assunto estava presente no local.

Riacho abastecia a cidade O Riacho do Silva, que abriga em suas encostas o Parque Municipal de Maceió, já serviu ao abastecimento de água para parte da cidade. Hoje, o riacho que tem dez nascentes está poluído com muito lixo e água de esgoto sendo despejados em sua margem, pelas casas da Chã da Jaqueira, que não tem saneamento básico.

O vigilante José Cariolando diz que os maiores responsáveis pela poluição do riacho são os moradores que vivem em construções irregulares num morro na parte de cima do parque. “Eles jogam água dos tanques de sua casa dentro das nascentes. Tem ainda o esgoto que deságua no riacho. É muito triste a diferença do parque de 13 anos em relação à hoje. É dolorido porque eu meu sustento vem desse lugar,” ressalta.


Moradores do bairro de bebedouro fazendo extração de areia.  

A areia do Riacho do Silva está sendo retirada por pessoas que moram no próprio bairro de Bebedouro. No local, muitos dizem que fazem isso para evitar que o riacho transborde. “Se tiver muita areia, a água transborda quando chove. O pessoal que está desempregado preferiu se unir para ajudar a retirar à areia. Tem muito tempo que fazemos isso. Do outro lado, a prefeitura retira o lixo, deste (ao lado do parque) retiramos a areia,” diz um homem, que preferiu não ter o nome revelado.


 
José Rubens diz está ciente da retirada de areia.

Segundo o coordenador do Parque Municipal e diretor do Departamento de Jardinagem e Arborização da Secretaria de Proteção ao Meio Ambiente (Sempma), José Rubens, as autoridades estão cientes sobre a retirada de areia do Riacho do Silva. “O pessoal que tira a areia vende para alguma empresa. É a fonte de sobrevivência que eles têm. Estamos cientes, mas não é um problema, já que a areia sempre se renova. Os homens que estão lá fazendo o trabalho de extração nem deixam outras pessoas participarem. É como se eles tivessem tomado conta da área. Aquele é trabalho diário deles”, comenta.

Um homem que trabalha retirando areia das margens do rio, que pediu para não ser identificado, contou que a areia é vendida para uma empresa particular de nome J.A. Construções, que fica localizada no bairro do Poço. Ele ainda disse que o motorista do caminhão, que estava no local (de cor laranja e placa MUC – 9856, de Maceió), paga pelo trabalho a quantia de R$ 100 por caçamba cheia, e que a empresa vende a R$ 50 o metro de areia. “Uma quantia alta, levando em consideração que o caminhão tem aproximadamente 6,5 metros de comprimento da caçamba”, disse o homem.

Caminhão utilizado no recolhimento da areia para ser comercializada.
Caso de polícia Apesar de ser considerado um benefício para a comunidade pelo diretor do parque, a extração de areia é proibida, citada na Lei Federal de Proteção Ambiental nº 9.60, nos termos do seu artigo 44 que diz textualmente:

Art. 44. “Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais”.

E as autoridades policiais estão atentas a essa irregularidade. O delegado responsável pela área, Roberval Davino, do 4º Distrito Policial, informou que já está investigando o caso. Comunicado pelas estudantes sobre a reportagem, o delegado resolveu acompanhar a dupla como medida de segurança, já que existem informações que as pessoas que trabalham naquela área são bastante perigosas.

Após o flagrante constato pelas estudantes, o delegado se comprometeu em realizar novas diligências, na tentativa de localizar os culpados.



O diretor do Instituto de Meio Ambiente ima Ricardo César confirma que a extração irregular de areia é um crime e que causa muitos danos ao meio ambiente. “Quem deseja retirar areia (um bem mineral) deve pedir três licenças ao IMA: a Prévia, a de Implantação e a de Operação”, informa.

Ele explicou que, logo após estudarem a área física para saber se suporta a exploração, funcionários do IMA encaminham o pedido ao Conselho Estadual de Proteção ao Meio Ambiente irão deliberar a licença para por fim, autorizar a retirada do material. “Mesmo após a autorização, é necessário que se faça um procedimento de recuperação da área danificada, chamado de Plano de Restauração de Área Degradada (Prad),” comenta.

Ricardo César ainda apresentou as conseqüências desse tipo de atividade. “A retirada de areia causa alteração na circulação das águas dos riachos; devastação da mata que fica nas margens; o leito corre o risco de ficar seco e fundo; a água pode ser contaminada com óleos e graças se a draga (material utilizado para retirar à areia) não estiver em boas condições; além da falta de água para animais e possíveis acidentes durante a exploração,” finaliza o ambientalista.

Casal faz caminhada no parque municipal já há 10 anos


Visitantes desconhecem problemas Para os que fazem caminhadas ou trilhas no parque, o contato com a natureza é importante. Muitos deles desconhecem os problemas existentes no local. A exemplo do casal, Nora Pollyanne e José Lima de Oliveira, que frequenta a reserva há 10 anos e, com o grupo de crianças, costuma ir ao parque de bicicleta só para poder estar em contato com a natureza.

Nora Pollyanne, comenta que a caminhada de rotina é a melhor opção para deixar a saúde em dia. “Aqui o ar é puro. Não é sempre que a gente consegue vir pela manhã, mas sabemos que ao meio-dia não tem sol porque as árvores são muito longas e cobrem os raios. É fresquinho. Agora mesmo acabamos de ver uma raposa. Nunca tivemos problemas algum em fazer caminhadas por aqui. Ganhamos mudas de vez em quando e vamos contentes para casa”, observou.


Jovens fazem passeio de bicicleta pelo parque

Já para os adolescentes de 12 anos, Josemar William e Murilo Maxwell, o que agrada mesmo é fazer trilhas com bicicletas. “Aqui é calmo para a gente fazer trilha. Com certeza é muito melhor do que ficar em casa jogando vídeo game. A gente já enjoou dos jogos, mas daqui a gente não enjoa nunca. Vem mais 20 meninos fazer trilha quase todo dia. Todo mundo é do bairro e a gente adora.
 Até futebol a turma prefere jogar no parque” comentou um dos jovens.



José Cariolando se emociona ao falar da importância do parque em sua vida

José Cariolando comenta emocionado o quão importante o parque é para a sua vida “Aqui é a minha casa, não tem lugar onde eu me sinta melhor. Ambiente limpo, com pessoas legais, passarinhos cantando... Tenho convicção que minha saúde é excelente se comparada com a dos meus colegas que vivem em meio à poluição da cidade. O parque já faz parte de mim e eu dele,” completa.

Papagaio em dia de chuva



Por: Lays Peixoto


Em um domingo de chuva o papagaio com suas penas verdes, amarelas e vermelhas enfeitadas com gotas d'agua mostrou sua beleza encantadora.



Novas formas de pescar o sustento


Projeto transforma pescadores do município de Coqueiro Seco em produtores da valiosa própolis vermelha
Por: Anna Carolina, Iniale Gusmão e Mayane Paiva

Às margens da Lagoa Mundaú, o pequeno município alagoano de Coqueiro Seco sempre foi conhecido pela cultura popular, a banda de música e o ofício dos pescadores.
Mas essa história vem mudando na última década com os bons resultados do projeto Pescadores de Mel, do Instituto Lagoa Viva. Colocadas em prática em 2006, as ações de apicultura, educação ambiental e manejo de enxames foram implantadas também em Marechal Deodoro e Barra de São Miguel. Mas apenas Coqueiro Seco seguiu em frente e transformou a vida de muitos pescadores da região lagunar.
No início eram 25 pescadores, hoje o trabalho conta com 15. Muitos preferiram voltar à atividade da pesca ou buscar outros trabalhos para garantir o sustento da casa.

De acordo com Alexandre Andrade, Técnico em Informação do Lagoa Viva, a capacitação é o primeiro e o maior passo para o sucesso dos que acreditaram e apostaram no projeto.

Ele também destaca a busca de parceiros, como o Banco do Brasil. Juntas, as duas instituições não só preparam os pescadores para uma nova profissão, como também doaram as roupas especiais utilizadas no manejo dos enxames, a estrutura de colméias artificiais e o apiário.

“Só o jaleco custa R$ 350. No geral, cada conjunto completo sai por R$ 800. Sem ajuda, eles não teriam condições de iniciar a nova atividade”, ressalta Alexandre.

Dos criadouros de Coqueiro Seco é extraída a própolis vermelha, existente apenas nas regiões próximas a mangues. O produto tem 80% de fator de cicatrização, o que colabora no tratamento do câncer e vem sendo estudado pela comunidade científica.

“O Dr. Severino Matias, professor da PUC de São Paulo, descobriu o poder curativo da própolis vermelha, que só existe nas regiões próximas a mangues, como é o nosso caso. Ela é importante no tratamento de oito tipos de câncer”, conta José Edvaldo Cabral, um dos mais antigos pescadores que participam do projeto.

Matéria Bruta

Própolis vermelha bruta
Crédito: Ana Carolina
Para a venda, a própolis vermelha bruta é colocada dentro de um frasco com álcool e lá fica por noventa dias. Só após esse período pode ser comercializada.


Segundo José Edvaldo, a situação deve melhorar bastante graças às pesquisas que estão sendo feitas sobre o produto. “Os japoneses estão muito animados com o que é produzido aqui; eles só procuram o que é melhor”, diz Edvaldo, que também produz cerca de uma tonelada de mel por ano.

O próprio Edvaldo garante já foi beneficiado com os efeitos curativos daquilo que produz. “Tinha um problema no joelho que ‘ganhei’ trabalhando na lagoa. Melhorei depois de consumir todos os dias a Geléia Real, produzida nas suas próprias colméias”, conta o pescador. “Quando a gente pensa em abelha, lembra só do mel. Mas não é só isso não”.

Sabonetes produzidos a base da própolis vermelha
Crédito: Ana Carolina
Além disso, os pescadores de mel também produzem outros artigos, como sabonetes. “Eles são ótimos para vários problemas de pele”.


Apesar de todos os benefícios e lucros, o projeto Pescadores de Mel esbarra num problema crucial: a negociação. “Para exportar, nós dependemos de um atravessador mineiro. Parte do lucro fica em Minas Gerais e São Paulo”, diz Edvaldo. “Além disso, nosso produto ainda não pode ser patenteado como medicinal por falta de uma associação que nos represente.”

Para tentar amenizar os problemas, agora eles estão se organizando para fundar a Associação dos Apicultores de Coqueiro Seco.

Outra questão importante enfrentada é a preservação da Lagoa Mundaú e seus mangues, indispensáveis para a continuidade da produção da própolis vermelha.

Pescador José Evaldo e o Edywan Silvestre,
 coordenador do Lago Viva em Coqueiro Seco
Credito: Ana Carolina


Nesse sentido, estão empenhados no desenvolvimento de um projeto para a preservação de uma planta típica do habitat, que evita a poluição e o assoreamento que estão se tornando comuns nas margens das lagoas.

O Rabo do Bugio (Dalbergiae Castophyllum) será de grande utilidade para preservar os manguezais, por ser totalmente adaptável ao ecosistema de Coqueiro Seco. “Conhecemos a dura realidade da poluição e sentimos na pele suas consequências. Por isso, não podemos deixar de investir em preservação e educação ambiental”.

Mas o raio de atuação do Instituto Lagoa Viva em Coqueiro Seco vai além do projeto Pescadores de Mel. “Estamos desenvolvendo outros trabalhos de educação ambiental com adolescentes. Faz parte do novo foco de atuação do Lagoa Viva a formação diretamente dos alunos, e nossa cidade foi contemplada com a participação nesse novo momento”, comemora Edywan Silvestre, coordenador do Lagoa Viva no município de Coqueiro Seco.

Os trabalhos de educação ambiental sempre foram bem ativos no município. Ele conta que já foram realizadas várias ações para a preservação das nascentes, de conscientização e preservação da lagoa e contra o lixão local. “Passamos por um período de baixa e alguns projetos quase acabaram. Mas agora estamos renascendo”.

O Nascimento

O Instituto Lagoa Viva nasceu da necessidade de disseminar o ensino da Educação Ambiental no Estado, em 2001, graças às novas regras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Em Alagoas foi criado, a princípio, o Projeto Lagoas, e pertencia a Secretaria Estadual de Educação. Contemplava as cidades do complexo lagunar Mundaú-Manguaba e era limitado de recursos financeiros.

Por causa dessa limitação, houve a busca por patrocínios para a realização dos projetos. Com o apoio da iniciativa privada os trabalhos cresceram. Como o projeto deu resultados positivos, começou a chamar a atenção e ser requisitado por outros municípios que não faziam parte do estuário lagunar Munguaba.

Surgiu a necessidade de consolidar os trabalhos, abordando os outros ecossistemas existentes em Alagoas. Em 2003, nasceu o Lagoa Viva, enquanto instituto, que visa a capacitação dos profissionais da educação para o ensino ambiental.

Para atuar em um determinado local, as secretarias municipais de educação solicitam a presença do Instituto.

No ano passado foram promovidos 170 projetos em 38 municípios. O trabalho é, predominantemente, nas escolas públicas, mas também é feito em instituições de ensino particulares.

Sustentabilidade: a apatia do jovem urbano

Por que a população jovem tem pouco interesse por questões relacionadas ao meio ambiente e a práticas sustentáveis
Por Fernando Nunes e Nathália Conrado


O Brasil está a dois meses de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, que acontece na cidade do Rio de Janeiro em junho deste ano, vinte anos depois da Cúpula da Terra – onde países aprovaram um plano para repensar o crescimento econômico, promover a equidade social e assegurar a proteção ambiental, conhecido como Agenda 21.

Esta é a primeira oportunidade para muitas jovens (de 18 a 35 anos), que eram crianças ou não haviam nascido na época (1992), de pensar sobre temas ligados a meio ambiente e desenvolvimento sustentável de uma maneira mais profunda, com todas as esperanças depositadas nas mãos daqueles que levarão o Brasil adiante nas próximas décadas. Mas como será que o jovem vê essa questão?

Apesar de temas ligados ao meio ambiente fazerem parte do cotidiano da população jovem do país, inclusive de Alagoas – onde existe uma grande quantidade de pontos de preservação ambiental -, a relação dessa faixa etária da população com a temática não parece ser das melhores. Pelo menos é o que comprava uma ampla pesquisa feita no primeiro semestre de 2009 pelo Instituto Akatu - pelo Consumo Consciente.

A pesquisa Estilo Sustentáveis de Vida, integra o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e foi realizada com jovens de todas as classes econômicas residentes em várias regiões metropolitanas do país, revelando o perfil de um jovem e adulto que troca o convívio social pela internet e que necessita de estímulos para as praticas sustentáveis, apesar de ter percepção das mudanças climáticas.



                                                               (Fonte: Instituto Akatu)

Dados da pesquisa mostram que 86% dos jovens brasileiros possuem baixa consciência ambiental, realidade que se reflete ainda hoje em Maceió entre a população com mesma faixa etária da amostragem pesquisada. Eles têm os mesmos hábitos e apontam as mesmas preocupações prioritárias levantadas no estudo. Uma prova de que a atitude do jovem mudou pouco ou não mudou ao longo desses três anos.

“O maior debate que nós temos em minha sala de aula é o pouco interesse dos universitários em discutir assuntos relacionados ao meio ambiente”, diz a estudante do último ano de gestão ambiental do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Letícia Pascoalino, 20 anos. “Existe um conflito de interesses entre consumo e sustentabilidade onde o primeiro sempre vence a causa jovem”.

Para Letícia a discussão do tema entre os jovens é muito fraca, sem nenhum tipo de aprofundamento que realmente atraia a atenção do mesmo. “Já estive em muitos debates sobre o assunto que parece estar estagnado na questão do lixo e da reciclagem. Tudo é sempre discutido de maneira superficial pelas pessoas da minha idade, que não enxergam o consumo como grande gerador de resíduos”, ressalta.

As relações de desinteresse

A estudante é mais uma das que acreditam que a realidade do jovem apático a temas relacionados à sustentabilidade só pode ser vencida com ajuda da sociedade civil organizada que, segundo ela, é a única que pode ser capaz de incutir no jovem, por meio da informação correta, o desejo de ter uma vida de práticas sustentáveis.

“O jovem precisa entender que as pessoas que moram as margens da Lagoa Mundaú estão em um mesmo nível de degradação do meio ambiente que aqueles que constroem os grandes condomínios de luxo. Ambos poluem achando que outro faz pior”, desabafa a estudante descrente que a Rio + 20 possa mudar ou alterar essa dinâmica tão depressa.

A pesquisa Estilo Sustentáveis de Vida aponta ainda, que quando perguntados em nível de prioridades mais importantes para a melhoria de vida, os jovens indicaram em maiores índices o combate à criminalidade com 35% das opiniões. A questão da degradação ao meio ambiente ficou em 4º lugar com apenas 11%. Embora as questões ambientais fiquem representadas de forma secundária nas prioridades, ela ainda está em “pauta”. O problema parece ser a qualidade e a utilidade da informação oferecida pela mídia com relação ao assunto, que segue a agenda pública.

Sócioeconomia x sustentabilidade

Segundo o levantamento de 2009, os jovens que mais se importam com o meio ambiente e que aderem a um modo sustentável de vida, estão inseridos nas classes A e B, com maior acesso a informações práticas sobre o tema. Já os que menos se importam, estão nas classes C e D, onde há condições de educação diferentes, critério que determina o interesse pelo assunto e ações conscientes. É o que exemplifica a tabela abaixo:

(Fonte: Instituto Akatu)

Para a líder do Processo de Sustentabilidade da Eletrobras Distribuição Alagoas, Ylmara Torres, é inadmissível que um jovem não tenha consciência crítica e se anule diante das condições atuais. “Falamos em sustentabilidade a todo o momento, unicamente porque estamos vivendo a insustentabilidade” afirma.

Ylmara comenta que a situação socioeconômica de Alagoas é um dos fatores que fazem a questão ambiental não prioritária para os jovens, segundo ela, descrentes da causa, “Alagoas tem cerca de 50% da população abaixo da linha da pobreza, fica difícil preocupar-se com outros assuntos, quando não se tem qualidade de vida”. Analisa, e completa refletindo sobre o futuro. “Se continuarmos assim, em 40 anos teremos que ter 3 planetas, iguais a este, para dar continuidade a espécie humana” enfatiza.

Desinformação ambiental

Em uma análise feita com estudantes de uma faculdade privada de Maceió, entre 20 e 28 anos, percebe-se que apesar do volume de informação, eles não são atraídos pelo tema, ou seja, não há a preocupação de criar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental.

“O ser humano não se importa com o próximo. Quando o problema não incomoda de forma direta, ignora, e fica à espera de alguém que tome uma atitude”, afirma a estudante de jornalismo, Roberta Colén, 20 anos, que confessou não pensar em sustentabilidade com freqüência.

De acordo o diretor presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, a colocação de Roberta parece pertinente, dentro do processo de individualização do jovem. Ele acredita que através das redes sócias essa população possa fazer um contraponto à ausência nas organizações sociais. Aspecto que acha que deve ser objeto de estudo.

“Eu tento fazer as mínimas coisas como, separar o lixo, economizar água e energia, porém sinto que minha ação significa muito pouco diante dos problemas tão grandes que aparecem na mídia”, lamenta o estudante Evandson Batalha, 28 anos.

Outra realidade preocupante é a do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), que está encerrando este ano sua primeira turma do curso Técnico em Meio Ambiente. No início do curso a turma contava com cerca de 40 alunos, porém hoje apresenta um número de evasão que atinge 50%, dado que reforça o desinteresse do juvenil.


“Quase nunca temos aulas práticas, os professores não oferecem bons conteúdos nas disciplinas, às vezes chegam a falar que não há muito que se discutir em sala de aula”, desabafa a estudante Alexandra Ambrósio, 17 anos, sobre a precariedade do curso e o motivo da desistência de seus colegas. “Meu objetivo é me qualificar e levar conhecimento à sociedade de hoje, pois as próximas gerações dependem deste esforço”, completa.

O caminho para melhora

A mídia e a academia têm um papel fundamental para ampliar o interesse sobre a temática ambiental. A academia vem de certa forma adequando suas matrizes curriculares, contemplando essa problemática e buscando expandir a discussão sobre questões importantes, é o que indica a professora do Centro Universitário Cesmac, Silvia Falcão, jornalista por formação, que ministra disciplinas como Assessoria de Comunicação e Sociedade e Meio Ambiente.

“Temos poucos espaços destinados a discutir o meio ambiente e este só ganha destaque na mídia quando em eventos negativos, sob a ótica de grande causador de danos, a discussão deveria ser outra”, defende a professora, que acredita que a mídia precisa ampliar a cobertura da temática ambiental e criar espaços para atividades práticas e simples. “É preciso questionar mais a participação do homem na degradação e o papel da educação ambiental nesse contexto econômico em que vivemos”.

Para todos os entrevistados, a mudança de atitude passa pela informação. Um volume maior de informações práticas sobre estilos de vida sustentáveis faria com que eles próprios adotassem novos hábitos. Isto coloca em cheque a qualidade e o modo como todo o assunto desta reportagem é tratado na mídia. Não adianta apenas falar sobre preservação, lixo e reciclagem, os jovens precisam se sentir parte disso. A resposta clara que se tem ao conversar com eles, é que o problema não é a falta de informação, mas a relevância dela diante de outros assuntos.

Maceió tem coleta seletiva, mas não conscientiza

Muito comércio e pouco exercício de Educação Ambiental
Por: Karina Moura
A iniciativa de reciclagem que predomina em Alagoas é comercial. Os depósitos que compram e vendem o material reciclável estão espalhados por vários bairros da capital. Existe uma população de catadores que sobrevivem de uma renda formulada a partir dessa coleta. No entanto, a Educação Ambiental não é prioridade no estado.


O projeto que desenvolvia em suas atividades essa perspectiva educacional deixou de presta-la por falta de estrutura. Depois de um incêndio na sede da ONG Pitanguinha Minha Vida em 2008, poucas pessoas sabem sobre sua continuação, que se dá entre a falta de equipamentos e estrutura, realizando a ação da qual foi pioneira na cidade. A coleta seletiva.

Segundo a coordenadora da ONG, Helia Coelho da Paz, nem sempre o funcionamento desses depósitos se dão forma adequada. Algumas medidas deveriam ser sempre tomadas. Por exemplo, o material deve ser acondicionado para evitar o acúmulo de insetos e ser isento de exposição, para que não se desgaste e, consequentemente se desvalorize. Por isso, mesmo não deixando de ser importante a coleta seletiva, a educação ambiental é primordial e precisa ser priorizada.

As políticas públicas do país não permitem investimento na educação e na preservação do planeta. Helia diz, “Todos nós sabemos que quanto mais sujeira, mais o governo investe na coleta do lixo. Assim, arrecadam, controlam e recebem de organismos sociais que aplicam seu dinheiro para a conservação do planeta”.

Disse ainda, que o processo de reciclagem é feito fora do estado, pois Alagoas não contempla esse ramo. As empresas não coletam. São as ONGs, incluindo as cooperativas, que fazem esse trabalho. Manuel Dome, um dos donos de um depósito de compra e venda de material reciclável, localizado na entrada do bairro Santos Dumont, vende o material para empresas de Recife e Aracajú. Ele disse que algumas empresas que fazem o processo de reciclagem começaram a surgir no estado, mas que devido aos juros altos, ainda predomina a exportação.

Para Helia a maior dificuldade é a resistência das pessoas. “Alguns pensam que porque têm dinheiro podem jogar seu lixo em qualquer lugar. Outros, que por não tê-lo não precisam ser educados, levar e colocar o material em local apropriado. Quando somos educados à não jogar nosso material em qualquer lugar, com certeza evitamos acúmulo de insetos e animais que promovem doenças”. Enquanto medidas de Educação Ambiental não forem adotadas a população continuará indiferente a preservação consistente e consciente.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O outro lado da orla marítima de Maceió

Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas, principais praias e pontos turísticos da cidade, estão se transformando em verdadeiros depósitos de lixo, causando transtornos e comprometendo a vida marinha e a saúde de banhistas e comerciantes


POR ISLEY TENÓRIO E MARCEL VITAL


Esgoto e banhistas se misturam na praia de Ponta Verde

 O cenário convidativo de sol abundante, águas mornas em tons de verde e azul e coqueirais é um atrativo e tanto para quem busca relaxar e esquecer os problemas do dia a dia. A vista privilegiada chama a atenção não só de turistas, mas também dos moradores.


Sob outro ângulo é possível observar com olhar mais atento um cenário transformado. Em pouco tempo percebe-se uma variedade de sujeira, desde embalagens plásticas, restos de cigarro, latas de alumínio, papel até seringas e preservativos que são usados e jogados na clara areia da orla marítima de Maceió.   O descarte inadequado de lixo no local tem colocado em risco à saúde de quem pratica atividades físicas, gosta de observar a paisagem e de famílias inteiras que, muitas vezes, têm a praia como única opção de lazer após uma semana de trabalho. Eles precisam de atenção redobrada para não se contaminar nem se machucar.

Frequentadora da praia de Pajuçara, a costureira Dalva da Silva, acabou sendo vítima dessa situação. Após o contato com a areia contaminada, ela contraiu um germe causado pelas fezes de cães. “Foi uma luta pela vida, tive que tomar antibióticos para melhorar”, conta.

A presença de animais domésticos, principalmente cachorros, é frequente nas praias. Segundo Dalva, é constante ver donos alimentando os animais. Ela reclama que muitos não têm a preocupação de levar sacolas plásticas para o recolhimento de restos de comida e as fezes que ficam na areia.

Outro problema que a banhista critica é a presença de pombos. Os restos de alimento que são deixados na areia é um atrativo para essas aves e um risco à saúde para quem costuma ir à praia. Hoje curada, ela se diz uma sobrevivente e procura ter mais atenção nas praias que costuma ir. Sentar na areia sem a devida proteção e tomar banho de mar são hábitos do passado.


Falta de lixeiras na areia e
 falta de educação dos banhistas: lixo por toda parte
 Materiais cortantes são também grandes vilões para quem precisa trabalhar ou se entreter. Segundo comerciantes que não quiseram ter seus nomes revelados, não raro encontrar nos finais de semana banhistas, em sua maior parte crianças, se cortarem com garrafas de vidro, tampinhas de cerveja e até com palitos de churrasquinhos que são enterrados nas areias.

“Você vem à praia para se divertir e acaba se machucando. É um absurdo e o poder público não faz nada para mudar essa situação”, reclama um comerciante da praia de Ponta Verde, que trabalha no local há quase uma década.

AUSÊNCIA DE LIXEIRAS, EDUCAÇÃO E FISCALIZAÇÃO

De acordo com Fernando Antônio e Manuel Bezerra, garis da empresa Viva Ambiental, a ausência de contêineres e lixeiras em pontos estratégicos nas areias das praias contribui ainda mais para o descarte de lixo. As limpezas feitas diariamente, distribuídas em três turnos não atendem à demanda da população, sobretudo durante o verão e feriados, quando o fluxo de pessoas aumenta nessa época.

Para Fernando Antônio, se os banhistas colaborassem recolhendo o lixo, a orla seria um local mais limpo, bonito e melhor. “Não é porque eu sou gari que vou trazer minha esposa e meu filho para um lugar sujo”, indigna-se.

Eles reivindicam que se existisse fiscalização facilitaria o trabalho, por vezes, o serviço se estende porque catadores rasgam os sacos de lixo nos coletores em busca de latas de alumínio para a venda em ferros-velhos.

Segundo o Diretor de Fiscalização da Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum), Adilson Souza, o número reduzido de contêineres é justamente para evitar que o local se converta em um “lixão” e cause maiores transtornos. Sobre a implantação de lixeiras mais próximas às areias, o diretor garantiu que uma equipe irá ao local para verificar onde poderão ser implantadas, mas não disse quando terá início.

Ele vê como medida paliativa a distribuição de sacolas plásticas, durante os finais de semana, visando conscientizar a população na tentativa de amenizar o problema. No entanto, essa medida até o fechamento da reportagem não tinha sido colocada em prática.

Para a comerciante Eliene Marcelino, que atua na venda de churrascos, bebidas, aluguel de cadeiras e guarda-sóis, todos os ambulantes firmaram acordo com a prefeitura de Maceió para manter limpo o local onde trabalham.


Garis dizem que é necessário fiscalização para manter as praias limpas

Segundo ela, a falta de organização acontece por parte de uma minoria. Eliene explica que para cada banhista que aluga as cadeiras é disponibilizada uma lixeira, mesmo assim, alguns acabam descartando o que consomem na areia.

Perguntada como ela imagina as praias num futuro próximo, ela responde que se houver fiscalização do poder público e investimentos visando à conscientização, principalmente com a população alagoana, pode ser que ocorram mudanças significativas. Porém, se a situação se prolongar, o cenário pode ficar igual ou pior que as praias da Avenida e do Sobral.

O turista Edmilson Bezerra, de Itapetininga, interior de São Paulo, se diz preocupado com a situação das praias de Maceió. Visitando a cidade pela quarta vez, ele conta que todas as vindas é uma surpresa diferente.

“Como se já não bastasse os copos descartáveis, os saquinhos plásticos e os palitos de sorvete; tive que presenciar também, preservativos usados boiando na água. É revoltante, um fator negativo para a própria cidade.”

Já para Ana Brás, turista de São Paulo, que morou em Maceió durante anos, a situação das praias, em especial a de Cruz das Almas, é lamentável. “Não tenho coragem de entrar nessas águas”, esbraveja.

O motivo é o lançamento de esgotos que formam as chamadas “línguas negras”. A turista se diz incomodada com a ausência de lixeiras próximas à areia e placas sinalizadoras que indiquem que aquela determinada área está própria ou imprópria para banho.

“Acredito que a educação ambiental, enquanto atitude, tem que começar com os governos, pois não adianta educar cidadãos nas escolas se a administração pública não facilita e não muda a estrutura”.

A turista ainda compara a realidade da orla de Maceió com a antiga situação do litoral do município de Praia Grande, no estado de São Paulo. Ela relata que era constante encontrar grandes quantidades de lixo nas areias e que a prefeitura obteve resultados satisfatórios ao aumentar o número de profissionais de limpeza, investimentos em campanhas, além de medidas como a implantação de placas e lixeiras mais próximas dos banhistas.

O BELO MAR POLUÍDO

O problema da poluição vai muito além do que é descartado nas areias, compromete também a vida marinha, colocando em risco animais indefesos como as tartarugas, principais vítimas da ação do homem. Plásticos, pedaços de nylon e até partes de computador são os itens mais encontrados dentro do estômago desses animais.

A bióloga Aliete Bezerra, uma das fundadoras do Instituto Salsa de Praia, uma ONG que trabalha em conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Alagoas (CBMAL), explica que as espécies com maior índice de mortandade são a Chelonya Mydas, também conhecidas como tartarugas-verdes.

Segundo ela, como não conseguem diferenciar o que é alimento e o que não é, as tartarugas acabam ingerindo, em sua maior parte, plásticos ao invés de algas, que são um dos alimentos básicos para a sobrevivência desses animais. Ainda de acordo com a bióloga, por ser um material que não é biodegradável, o plástico se acumula dentro do organismo, dando a sensação de saciedade, por isso, muitas terminam morrendo.

Bezerra esclarece que, em casos de pneumonia causada por bactérias presentes no lixo, a equipe consegue reabilitar o animal devolvendo para seu habitat natural, mas quando há a ingestão por plástico é quase inevitável porque eles não conseguem retirar o material de dentro do organismo.

Não somente as tartarugas que sofrem por conta da poluição, mas também as aves. O albatroz-errante, ave da família Diomedeidae, ingere em sua maior parte, tampinhas de garrafas plásticas e pedaços de nylon. De acordo com Aliete, quando a fêmea regurgita a comida para alimentar os seus filhotes, eles engolem esses materiais e terminam morrendo.

A poluição produzida pelo homem e o aumento das temperaturas na Terra têm provocado também a morte dos recifes de corais, organismos que vivem em simbiose com algas microscópicas, presentes no seu tecido, dependem da intensidade luminosa para viver. Segundo César, quando o plástico ou outro material estão presentes nos corais, a transparência e luminosidade que chegam até eles diminuem, e muitos acabam morrendo em função do bloqueio da luz.

CUIDADO!

De acordo com o Diretor Técnico do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Ricardo César, o descarte de plásticos, latas de alumínio, garrafas de vidro, entre outros materiais, não influenciam na balneabilidade das águas. No entanto, quando banhistas e animais de estimação entram em contato com a água do mar, fazendo suas necessidades fisiológicas, a exemplo das fezes, acabam interferindo na análise.

A Escherichia Coli, bactéria presente na flora microbiana intestinal de humanos e da maioria dos animais de sangue quente, é encontrada normalmente nas fezes, sendo um indicativo na hora da coleta da água.

Conforme o Diretor Técnico do IMA, o processo de análise da balneabilidade segue a Resolução CONAMA n°274, de 29 de novembro de 2000, que estabelece o critério da qualidade da água própria para banho, quando 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, não exceder um limite de 1.000 NPM (Número Mais Provável) de coliformes termotolerantes (fecais) por 100ml da amostra de água.

As praias são consideradas impróprias, quando não obedecer ao critério anterior ou quando venha apresentar na última semana um valor superior a 2.500 coliformes termotolerantes.

Os banhistas que frequentam as praias impróprias desconhecem o problema. “Não estou sabendo, se soubesse nem entraria e também não sei quais são as adequadas para banho”, diz a banhista da praia de Jatiúca, Denazilda Nascimento Neta.


Moradores de Maceió e turistas na praia da Pajuçara
ficam indignados com esgoto a céu aberto
 Sobre a ausência de placas sinalizando os trechos impróprios para banho, César explica que existiam, mas que foram retiradas devido aos constantes atos de vandalismo. E denuncia que muitas eram quebradas e até queimadas pelos comerciantes que as retiravam com medo de perder seus clientes.

Paisagem que está sendo destruída unicamente por falta de cuidados. Até quando veremos animais tentando vencer obstáculos na busca pela vida? Quando o homem irá se dar conta das cicatrizes deixadas por suas ações? “A natureza é humana e nós somos a natureza. É uma troca”, diz a turista Janete Viana, do Paraná. Uma tarefa árdua, que dependerá não só das autoridades, mas principalmente da sociedade. Um problema que poderia ter sido evitado.