Reserva florestal de Mata Atlântica do Parque Municipal sofre com a ação do homem
Por: Texto: Roberta Cólen / Fotografia: Lays Peixoto
Parque Municipal proporciona tranquilidade aos visitantes |
Um paraíso ecológico que concentra árvores centenárias, fauna e flora em abundância, lago com jacarés, animais silvestres, viveiro, seis trilhas ecológicas, riacho, além do ar puro e contato com a natureza. Toda essa diversidade está à disposição para visitas no Parque Municipal de Maceió, no bairro de Bebedouro.
A área, uma reserva florestal da Mata Atlântica, tem aproximadamente 82,4 hectares e recebe cerca duas mil pessoas por mês. Mas quem visita esse cenário não se dá conta dos problemas que ameaçam o local. A ação do homem tanto dentro da reserva como no seu entorno, tem causado danos que ainda não são percebidos pelos visitantes mais distraídos.
São inúmeros os problemas existentes no local que vão desde poluição e roubo de animais a invasão de bandidos e extração de areia do Riacho do Silva. A área do parque é muito extensa e não possui nenhuma proteção com muros ao seu redor, o que facilita ação de criminosos.
Esgoto e uma grande quantidade de entulhos poluem o Rio do Silva |
Durante dois dias, a dupla de estudantes do curso de jornalismo observou as belezas naturais e flagrou a ação do homem contra o meio ambiente. Foram horas de caminhada, espera e de investigação onde foi flagrado um caminhão extraindo toneladas de areia sem licença; lixo jogado às margens do Riacho do Silva; árvores cortadas, aparentando desmatamento e também muita vida, que luta para sobreviver junto à degradação.
Funcionário reclama dos animais que são furtados do parque |
Um problema que o Parque Municipal carrega é a falta de respeito que muitos visitantes têm com a fauna do local.
De acordo com o funcionário da reserva - que trabalha no local há mais de 14 anos fazendo vigilância e monitoramento dos visitantes – José Cariolando, animais são furtados do Parque Municipal, como é o caso dos passarinhos das mais variadas espécies. Um deles, conhecido como Xexéu, está ameaçado de extinção.
Na falta de educação e consciência ambiental, crianças e adultos jogam pedras em muitos bichos, e dão comidas inapropriadas colocando em risco a vida dos bichos que vivem soltos na mata. É comum jacarés – que tem em média dois anos - serem encontrados mortos boiando no lago que fica na parte interna do parque. Para esses óbitos a principal explicação dos responsáveis da área, são a quantidade de lixo e as agressões sofridas pelos animais.
Segundo funcionários, o parque por ser uma área grande dentro da cidade serve ainda, como esconderijo de criminosos que tentam se esconder da polícia. Como a fiscalização no local é pequena, feita por apenas seis funcionários, a área se tornou ponto fácil. Três vigias ficam na portaria, um circula pela reserva e os outros dois ficam em uma casa de vigilância na área dos fundos do parque.
Na tentativa de garantir a segurança no local, uma moto foi disponibilizada para ajudar os vigilantes a percorreram com mais agilidade o parque, mas o veículo está parado por não ter gasolina. Para tentar inibir a ação dos bandidos, a Polícia Militar (PM) faz rondas a cada duas horas. Como o parque não tem câmeras é necessário que os visitantes passem por um “cadastramento”. O vigilante anota a placa do carro e a quantidade de pessoas que estão dentro do automóvel.
As alunas entraram em contato com a empresa J.A. Construções, mas a funcionária Andréia não soube informar da onde que a areia vinha ou se era licenciada. De acordo com ela, nenhuma pessoa da loja que pudesse falar sobre o assunto estava presente no local.
Riacho abastecia a cidade O Riacho do Silva, que abriga em suas encostas o Parque Municipal de Maceió, já serviu ao abastecimento de água para parte da cidade. Hoje, o riacho que tem dez nascentes está poluído com muito lixo e água de esgoto sendo despejados em sua margem, pelas casas da Chã da Jaqueira, que não tem saneamento básico.
O vigilante José Cariolando diz que os maiores responsáveis pela poluição do riacho são os moradores que vivem em construções irregulares num morro na parte de cima do parque. “Eles jogam água dos tanques de sua casa dentro das nascentes. Tem ainda o esgoto que deságua no riacho. É muito triste a diferença do parque de 13 anos em relação à hoje. É dolorido porque eu meu sustento vem desse lugar,” ressalta.
Moradores do bairro de bebedouro fazendo extração de areia. |
A areia do Riacho do Silva está sendo retirada por pessoas que moram no próprio bairro de Bebedouro. No local, muitos dizem que fazem isso para evitar que o riacho transborde. “Se tiver muita areia, a água transborda quando chove. O pessoal que está desempregado preferiu se unir para ajudar a retirar à areia. Tem muito tempo que fazemos isso. Do outro lado, a prefeitura retira o lixo, deste (ao lado do parque) retiramos a areia,” diz um homem, que preferiu não ter o nome revelado.
José Rubens diz está ciente da retirada de areia.
|
Segundo o coordenador do Parque Municipal e diretor do Departamento de Jardinagem e Arborização da Secretaria de Proteção ao Meio Ambiente (Sempma), José Rubens, as autoridades estão cientes sobre a retirada de areia do Riacho do Silva. “O pessoal que tira a areia vende para alguma empresa. É a fonte de sobrevivência que eles têm. Estamos cientes, mas não é um problema, já que a areia sempre se renova. Os homens que estão lá fazendo o trabalho de extração nem deixam outras pessoas participarem. É como se eles tivessem tomado conta da área. Aquele é trabalho diário deles”, comenta.
Um homem que trabalha retirando areia das margens do rio, que pediu para não ser identificado, contou que a areia é vendida para uma empresa particular de nome J.A. Construções, que fica localizada no bairro do Poço. Ele ainda disse que o motorista do caminhão, que estava no local (de cor laranja e placa MUC – 9856, de Maceió), paga pelo trabalho a quantia de R$ 100 por caçamba cheia, e que a empresa vende a R$ 50 o metro de areia. “Uma quantia alta, levando em consideração que o caminhão tem aproximadamente 6,5 metros de comprimento da caçamba”, disse o homem.
Caminhão utilizado no recolhimento da areia para ser comercializada. |
Caso de polícia Apesar de ser considerado um benefício para a comunidade pelo diretor do parque, a extração de areia é proibida, citada na Lei Federal de Proteção Ambiental nº 9.60, nos termos do seu artigo 44 que diz textualmente:
Art. 44. “Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais”.
E as autoridades policiais estão atentas a essa irregularidade. O delegado responsável pela área, Roberval Davino, do 4º Distrito Policial, informou que já está investigando o caso. Comunicado pelas estudantes sobre a reportagem, o delegado resolveu acompanhar a dupla como medida de segurança, já que existem informações que as pessoas que trabalham naquela área são bastante perigosas.
Após o flagrante constato pelas estudantes, o delegado se comprometeu em realizar novas diligências, na tentativa de localizar os culpados.
O diretor do Instituto de Meio Ambiente ima Ricardo César confirma que a extração irregular de areia é um crime e que causa muitos danos ao meio ambiente. “Quem deseja retirar areia (um bem mineral) deve pedir três licenças ao IMA: a Prévia, a de Implantação e a de Operação”, informa.
Ele explicou que, logo após estudarem a área física para saber se suporta a exploração, funcionários do IMA encaminham o pedido ao Conselho Estadual de Proteção ao Meio Ambiente irão deliberar a licença para por fim, autorizar a retirada do material. “Mesmo após a autorização, é necessário que se faça um procedimento de recuperação da área danificada, chamado de Plano de Restauração de Área Degradada (Prad),” comenta.
Ricardo César ainda apresentou as conseqüências desse tipo de atividade. “A retirada de areia causa alteração na circulação das águas dos riachos; devastação da mata que fica nas margens; o leito corre o risco de ficar seco e fundo; a água pode ser contaminada com óleos e graças se a draga (material utilizado para retirar à areia) não estiver em boas condições; além da falta de água para animais e possíveis acidentes durante a exploração,” finaliza o ambientalista.
Casal faz caminhada no parque municipal já há 10 anos
|
Visitantes desconhecem problemas Para os que fazem caminhadas ou trilhas no parque, o contato com a natureza é importante. Muitos deles desconhecem os problemas existentes no local. A exemplo do casal, Nora Pollyanne e José Lima de Oliveira, que frequenta a reserva há 10 anos e, com o grupo de crianças, costuma ir ao parque de bicicleta só para poder estar em contato com a natureza.
Nora Pollyanne, comenta que a caminhada de rotina é a melhor opção para deixar a saúde em dia. “Aqui o ar é puro. Não é sempre que a gente consegue vir pela manhã, mas sabemos que ao meio-dia não tem sol porque as árvores são muito longas e cobrem os raios. É fresquinho. Agora mesmo acabamos de ver uma raposa. Nunca tivemos problemas algum em fazer caminhadas por aqui. Ganhamos mudas de vez em quando e vamos contentes para casa”, observou.
Jovens fazem passeio de bicicleta pelo parque |
Já para os adolescentes de 12 anos, Josemar William e Murilo Maxwell, o que agrada mesmo é fazer trilhas com bicicletas. “Aqui é calmo para a gente fazer trilha. Com certeza é muito melhor do que ficar em casa jogando vídeo game. A gente já enjoou dos jogos, mas daqui a gente não enjoa nunca. Vem mais 20 meninos fazer trilha quase todo dia. Todo mundo é do bairro e a gente adora.
Até futebol a turma prefere jogar no parque” comentou um dos jovens.
José Cariolando se emociona ao falar da importância do parque em sua vida |
José Cariolando comenta emocionado o quão importante o parque é para a sua vida “Aqui é a minha casa, não tem lugar onde eu me sinta melhor. Ambiente limpo, com pessoas legais, passarinhos cantando... Tenho convicção que minha saúde é excelente se comparada com a dos meus colegas que vivem em meio à poluição da cidade. O parque já faz parte de mim e eu dele,” completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário