sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sustentabilidade: a apatia do jovem urbano

Por que a população jovem tem pouco interesse por questões relacionadas ao meio ambiente e a práticas sustentáveis
Por Fernando Nunes e Nathália Conrado


O Brasil está a dois meses de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, que acontece na cidade do Rio de Janeiro em junho deste ano, vinte anos depois da Cúpula da Terra – onde países aprovaram um plano para repensar o crescimento econômico, promover a equidade social e assegurar a proteção ambiental, conhecido como Agenda 21.

Esta é a primeira oportunidade para muitas jovens (de 18 a 35 anos), que eram crianças ou não haviam nascido na época (1992), de pensar sobre temas ligados a meio ambiente e desenvolvimento sustentável de uma maneira mais profunda, com todas as esperanças depositadas nas mãos daqueles que levarão o Brasil adiante nas próximas décadas. Mas como será que o jovem vê essa questão?

Apesar de temas ligados ao meio ambiente fazerem parte do cotidiano da população jovem do país, inclusive de Alagoas – onde existe uma grande quantidade de pontos de preservação ambiental -, a relação dessa faixa etária da população com a temática não parece ser das melhores. Pelo menos é o que comprava uma ampla pesquisa feita no primeiro semestre de 2009 pelo Instituto Akatu - pelo Consumo Consciente.

A pesquisa Estilo Sustentáveis de Vida, integra o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e foi realizada com jovens de todas as classes econômicas residentes em várias regiões metropolitanas do país, revelando o perfil de um jovem e adulto que troca o convívio social pela internet e que necessita de estímulos para as praticas sustentáveis, apesar de ter percepção das mudanças climáticas.



                                                               (Fonte: Instituto Akatu)

Dados da pesquisa mostram que 86% dos jovens brasileiros possuem baixa consciência ambiental, realidade que se reflete ainda hoje em Maceió entre a população com mesma faixa etária da amostragem pesquisada. Eles têm os mesmos hábitos e apontam as mesmas preocupações prioritárias levantadas no estudo. Uma prova de que a atitude do jovem mudou pouco ou não mudou ao longo desses três anos.

“O maior debate que nós temos em minha sala de aula é o pouco interesse dos universitários em discutir assuntos relacionados ao meio ambiente”, diz a estudante do último ano de gestão ambiental do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Letícia Pascoalino, 20 anos. “Existe um conflito de interesses entre consumo e sustentabilidade onde o primeiro sempre vence a causa jovem”.

Para Letícia a discussão do tema entre os jovens é muito fraca, sem nenhum tipo de aprofundamento que realmente atraia a atenção do mesmo. “Já estive em muitos debates sobre o assunto que parece estar estagnado na questão do lixo e da reciclagem. Tudo é sempre discutido de maneira superficial pelas pessoas da minha idade, que não enxergam o consumo como grande gerador de resíduos”, ressalta.

As relações de desinteresse

A estudante é mais uma das que acreditam que a realidade do jovem apático a temas relacionados à sustentabilidade só pode ser vencida com ajuda da sociedade civil organizada que, segundo ela, é a única que pode ser capaz de incutir no jovem, por meio da informação correta, o desejo de ter uma vida de práticas sustentáveis.

“O jovem precisa entender que as pessoas que moram as margens da Lagoa Mundaú estão em um mesmo nível de degradação do meio ambiente que aqueles que constroem os grandes condomínios de luxo. Ambos poluem achando que outro faz pior”, desabafa a estudante descrente que a Rio + 20 possa mudar ou alterar essa dinâmica tão depressa.

A pesquisa Estilo Sustentáveis de Vida aponta ainda, que quando perguntados em nível de prioridades mais importantes para a melhoria de vida, os jovens indicaram em maiores índices o combate à criminalidade com 35% das opiniões. A questão da degradação ao meio ambiente ficou em 4º lugar com apenas 11%. Embora as questões ambientais fiquem representadas de forma secundária nas prioridades, ela ainda está em “pauta”. O problema parece ser a qualidade e a utilidade da informação oferecida pela mídia com relação ao assunto, que segue a agenda pública.

Sócioeconomia x sustentabilidade

Segundo o levantamento de 2009, os jovens que mais se importam com o meio ambiente e que aderem a um modo sustentável de vida, estão inseridos nas classes A e B, com maior acesso a informações práticas sobre o tema. Já os que menos se importam, estão nas classes C e D, onde há condições de educação diferentes, critério que determina o interesse pelo assunto e ações conscientes. É o que exemplifica a tabela abaixo:

(Fonte: Instituto Akatu)

Para a líder do Processo de Sustentabilidade da Eletrobras Distribuição Alagoas, Ylmara Torres, é inadmissível que um jovem não tenha consciência crítica e se anule diante das condições atuais. “Falamos em sustentabilidade a todo o momento, unicamente porque estamos vivendo a insustentabilidade” afirma.

Ylmara comenta que a situação socioeconômica de Alagoas é um dos fatores que fazem a questão ambiental não prioritária para os jovens, segundo ela, descrentes da causa, “Alagoas tem cerca de 50% da população abaixo da linha da pobreza, fica difícil preocupar-se com outros assuntos, quando não se tem qualidade de vida”. Analisa, e completa refletindo sobre o futuro. “Se continuarmos assim, em 40 anos teremos que ter 3 planetas, iguais a este, para dar continuidade a espécie humana” enfatiza.

Desinformação ambiental

Em uma análise feita com estudantes de uma faculdade privada de Maceió, entre 20 e 28 anos, percebe-se que apesar do volume de informação, eles não são atraídos pelo tema, ou seja, não há a preocupação de criar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental.

“O ser humano não se importa com o próximo. Quando o problema não incomoda de forma direta, ignora, e fica à espera de alguém que tome uma atitude”, afirma a estudante de jornalismo, Roberta Colén, 20 anos, que confessou não pensar em sustentabilidade com freqüência.

De acordo o diretor presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, a colocação de Roberta parece pertinente, dentro do processo de individualização do jovem. Ele acredita que através das redes sócias essa população possa fazer um contraponto à ausência nas organizações sociais. Aspecto que acha que deve ser objeto de estudo.

“Eu tento fazer as mínimas coisas como, separar o lixo, economizar água e energia, porém sinto que minha ação significa muito pouco diante dos problemas tão grandes que aparecem na mídia”, lamenta o estudante Evandson Batalha, 28 anos.

Outra realidade preocupante é a do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), que está encerrando este ano sua primeira turma do curso Técnico em Meio Ambiente. No início do curso a turma contava com cerca de 40 alunos, porém hoje apresenta um número de evasão que atinge 50%, dado que reforça o desinteresse do juvenil.


“Quase nunca temos aulas práticas, os professores não oferecem bons conteúdos nas disciplinas, às vezes chegam a falar que não há muito que se discutir em sala de aula”, desabafa a estudante Alexandra Ambrósio, 17 anos, sobre a precariedade do curso e o motivo da desistência de seus colegas. “Meu objetivo é me qualificar e levar conhecimento à sociedade de hoje, pois as próximas gerações dependem deste esforço”, completa.

O caminho para melhora

A mídia e a academia têm um papel fundamental para ampliar o interesse sobre a temática ambiental. A academia vem de certa forma adequando suas matrizes curriculares, contemplando essa problemática e buscando expandir a discussão sobre questões importantes, é o que indica a professora do Centro Universitário Cesmac, Silvia Falcão, jornalista por formação, que ministra disciplinas como Assessoria de Comunicação e Sociedade e Meio Ambiente.

“Temos poucos espaços destinados a discutir o meio ambiente e este só ganha destaque na mídia quando em eventos negativos, sob a ótica de grande causador de danos, a discussão deveria ser outra”, defende a professora, que acredita que a mídia precisa ampliar a cobertura da temática ambiental e criar espaços para atividades práticas e simples. “É preciso questionar mais a participação do homem na degradação e o papel da educação ambiental nesse contexto econômico em que vivemos”.

Para todos os entrevistados, a mudança de atitude passa pela informação. Um volume maior de informações práticas sobre estilos de vida sustentáveis faria com que eles próprios adotassem novos hábitos. Isto coloca em cheque a qualidade e o modo como todo o assunto desta reportagem é tratado na mídia. Não adianta apenas falar sobre preservação, lixo e reciclagem, os jovens precisam se sentir parte disso. A resposta clara que se tem ao conversar com eles, é que o problema não é a falta de informação, mas a relevância dela diante de outros assuntos.

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