sexta-feira, 27 de abril de 2012

Novas formas de pescar o sustento


Projeto transforma pescadores do município de Coqueiro Seco em produtores da valiosa própolis vermelha
Por: Anna Carolina, Iniale Gusmão e Mayane Paiva

Às margens da Lagoa Mundaú, o pequeno município alagoano de Coqueiro Seco sempre foi conhecido pela cultura popular, a banda de música e o ofício dos pescadores.
Mas essa história vem mudando na última década com os bons resultados do projeto Pescadores de Mel, do Instituto Lagoa Viva. Colocadas em prática em 2006, as ações de apicultura, educação ambiental e manejo de enxames foram implantadas também em Marechal Deodoro e Barra de São Miguel. Mas apenas Coqueiro Seco seguiu em frente e transformou a vida de muitos pescadores da região lagunar.
No início eram 25 pescadores, hoje o trabalho conta com 15. Muitos preferiram voltar à atividade da pesca ou buscar outros trabalhos para garantir o sustento da casa.

De acordo com Alexandre Andrade, Técnico em Informação do Lagoa Viva, a capacitação é o primeiro e o maior passo para o sucesso dos que acreditaram e apostaram no projeto.

Ele também destaca a busca de parceiros, como o Banco do Brasil. Juntas, as duas instituições não só preparam os pescadores para uma nova profissão, como também doaram as roupas especiais utilizadas no manejo dos enxames, a estrutura de colméias artificiais e o apiário.

“Só o jaleco custa R$ 350. No geral, cada conjunto completo sai por R$ 800. Sem ajuda, eles não teriam condições de iniciar a nova atividade”, ressalta Alexandre.

Dos criadouros de Coqueiro Seco é extraída a própolis vermelha, existente apenas nas regiões próximas a mangues. O produto tem 80% de fator de cicatrização, o que colabora no tratamento do câncer e vem sendo estudado pela comunidade científica.

“O Dr. Severino Matias, professor da PUC de São Paulo, descobriu o poder curativo da própolis vermelha, que só existe nas regiões próximas a mangues, como é o nosso caso. Ela é importante no tratamento de oito tipos de câncer”, conta José Edvaldo Cabral, um dos mais antigos pescadores que participam do projeto.

Matéria Bruta

Própolis vermelha bruta
Crédito: Ana Carolina
Para a venda, a própolis vermelha bruta é colocada dentro de um frasco com álcool e lá fica por noventa dias. Só após esse período pode ser comercializada.


Segundo José Edvaldo, a situação deve melhorar bastante graças às pesquisas que estão sendo feitas sobre o produto. “Os japoneses estão muito animados com o que é produzido aqui; eles só procuram o que é melhor”, diz Edvaldo, que também produz cerca de uma tonelada de mel por ano.

O próprio Edvaldo garante já foi beneficiado com os efeitos curativos daquilo que produz. “Tinha um problema no joelho que ‘ganhei’ trabalhando na lagoa. Melhorei depois de consumir todos os dias a Geléia Real, produzida nas suas próprias colméias”, conta o pescador. “Quando a gente pensa em abelha, lembra só do mel. Mas não é só isso não”.

Sabonetes produzidos a base da própolis vermelha
Crédito: Ana Carolina
Além disso, os pescadores de mel também produzem outros artigos, como sabonetes. “Eles são ótimos para vários problemas de pele”.


Apesar de todos os benefícios e lucros, o projeto Pescadores de Mel esbarra num problema crucial: a negociação. “Para exportar, nós dependemos de um atravessador mineiro. Parte do lucro fica em Minas Gerais e São Paulo”, diz Edvaldo. “Além disso, nosso produto ainda não pode ser patenteado como medicinal por falta de uma associação que nos represente.”

Para tentar amenizar os problemas, agora eles estão se organizando para fundar a Associação dos Apicultores de Coqueiro Seco.

Outra questão importante enfrentada é a preservação da Lagoa Mundaú e seus mangues, indispensáveis para a continuidade da produção da própolis vermelha.

Pescador José Evaldo e o Edywan Silvestre,
 coordenador do Lago Viva em Coqueiro Seco
Credito: Ana Carolina


Nesse sentido, estão empenhados no desenvolvimento de um projeto para a preservação de uma planta típica do habitat, que evita a poluição e o assoreamento que estão se tornando comuns nas margens das lagoas.

O Rabo do Bugio (Dalbergiae Castophyllum) será de grande utilidade para preservar os manguezais, por ser totalmente adaptável ao ecosistema de Coqueiro Seco. “Conhecemos a dura realidade da poluição e sentimos na pele suas consequências. Por isso, não podemos deixar de investir em preservação e educação ambiental”.

Mas o raio de atuação do Instituto Lagoa Viva em Coqueiro Seco vai além do projeto Pescadores de Mel. “Estamos desenvolvendo outros trabalhos de educação ambiental com adolescentes. Faz parte do novo foco de atuação do Lagoa Viva a formação diretamente dos alunos, e nossa cidade foi contemplada com a participação nesse novo momento”, comemora Edywan Silvestre, coordenador do Lagoa Viva no município de Coqueiro Seco.

Os trabalhos de educação ambiental sempre foram bem ativos no município. Ele conta que já foram realizadas várias ações para a preservação das nascentes, de conscientização e preservação da lagoa e contra o lixão local. “Passamos por um período de baixa e alguns projetos quase acabaram. Mas agora estamos renascendo”.

O Nascimento

O Instituto Lagoa Viva nasceu da necessidade de disseminar o ensino da Educação Ambiental no Estado, em 2001, graças às novas regras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Em Alagoas foi criado, a princípio, o Projeto Lagoas, e pertencia a Secretaria Estadual de Educação. Contemplava as cidades do complexo lagunar Mundaú-Manguaba e era limitado de recursos financeiros.

Por causa dessa limitação, houve a busca por patrocínios para a realização dos projetos. Com o apoio da iniciativa privada os trabalhos cresceram. Como o projeto deu resultados positivos, começou a chamar a atenção e ser requisitado por outros municípios que não faziam parte do estuário lagunar Munguaba.

Surgiu a necessidade de consolidar os trabalhos, abordando os outros ecossistemas existentes em Alagoas. Em 2003, nasceu o Lagoa Viva, enquanto instituto, que visa a capacitação dos profissionais da educação para o ensino ambiental.

Para atuar em um determinado local, as secretarias municipais de educação solicitam a presença do Instituto.

No ano passado foram promovidos 170 projetos em 38 municípios. O trabalho é, predominantemente, nas escolas públicas, mas também é feito em instituições de ensino particulares.

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