terça-feira, 18 de outubro de 2011

Na jugular - Uma Resenha Cultural de A Hora do Espanto

José Aragão - 6º período Jornalismo


Créditos  foto: Reprodução

Exagerado por natureza, o terrir (termo que categoriza filmes que misturam terror com comédia) A Hora do Espanto, considerado um quase clássico dos anos 80, vem arrecadando fãs ao longo de seus mais de 20 anos de produção. Como um tubarão faminto que nada velozmente para devorar sua vítima ao menor sinal de sangue na água, os sempre destemidos produtores de Hollywood farejaram dinheiro e decidiram encomendar uma refilmagem da adorada película. O resultado é um filme eficiente, mas que não serviria nem para lustrar os sapatos de seu primogênito.
O roteiro, escrito por Marti Noxon, baseado no original de Tom Holland, segue a história de Charlie Brewster (Anton Yelchin), nerd que finalmente conseguiu engatar um namoro com a gostosona da escola e está com a vida estruturada. Mas tudo muda quando o galante Jerry torna-se seu vizinho. História vai, história vem, Charlie descobre que Jerry não é nada mais nada menos do que um grande apreciador de jugulares humanas.

O diretor Craig Gillespie (do excelente A Garota Ideal) consegue imprimir bastante tensão ao filme, criando ao menos duas cenas absolutamente fantásticas: a tensa conversa entre Charlie e Jerry na cozinha e o ótimo plano-sequência dentro de um carro. Essa última cena, aliás, é o ponto alto do filme. Com o óbvio auxílio de efeitos visuais, Gillespie concebe uma sequência com excelente timing, onde o veículo consegue a proeza de ser atingido por uma moto, atropelar um vampiro e ser atingindo por outro carro, tudo isso sem corte aparente.
Colin Farrell se diverte bastante com o personagem, aproveitando todas as liberdades concedidas pela natureza animalesca do vampiro Jerry. Note o seu olhar, que parece estudar todos os cantos do cômodo em que se encontra, afim de descobrir quais saídas suas vítimas podem querer usar. Além disso, com sua voz rouca, imposição física e uma inabalável segurança e calma (ilustrada pelo fato de estar sempre segurando uma maçã, como se essa fosse sua refeição favorita), Farrell cria uma figura que nos faz temer pelo destino do protagonista.
David Tennant, por sua vez, cria um Peter Vincent completamente diferente do original, o que já anula de vez as já esperadas comparações. Seu Caçador de Vampiros é um homem egocêntrico, cachaceiro, sarcástico, mulherengo e não se importa nem um pouco com isso. Ainda assim, o beberrão ganha o coração do espectador graças às suas atitudes e reações, que lembram uma criança sem noção alguma do que acontece ao seu redor.
Quanto ao restante do elenco, todos estão adequados. Como protagonista, Anton Yelchin segura bem o elenco. Toni Collette não tem nada para fazer como a mãe de Charlie Brewster, a não ser flertar com o inimigo, gritar e ficar em coma, enquanto Imogen Poots se sai um pouco melhor, usando seu carisma e beleza. Mas é uma grande tristeza constatar que Christopher Mintz-Plasse esteja preso ao eterno papel de McLovin, o perdedor da comédia Superbad. Mesmo sempre eficiente, o franzino rapaz merece uma oportunidade de fazer algo diferente.

É uma pena, portanto, que o roteiro perca tempo com besteiras como um aplicativo para arrombamento de portas que, obviamente criado com o propósito de lembrar aos espectadores em que década o filme se passa, torna-se um artifício forçado, sem graça e inútil já que, pasmem, o vilão mantém uma cópia da chave de sua porta no quintal.
Aliás, que tipo de vilão deixa a chave do seu abatedouro escondida em uma pedra falsa, para que qualquer bisbilhoteiro possa entrar a hora que bem entender? Desse modo, fica até fácil de entender como foi que este Jerry já sentiu uma estaca varar seu corpo: ele provavelmente se empalou por acidente. Mas o roteiro não é de todo ruim: além de citar frases do original sem soar forçado (You’re so cool, Brewster), a roteirista Marti Noxon consegue imprimir uma bem-vinda dose de humor à produção.
Outro aspecto que chama a atenção e diferencia esta refilmagem de seu original, é sua época. Não pelo fator data, mas por suas, digamos, ideologias. Enquanto o original, produzido na década de 80, abraçava o exagero característico de seu tempo, a refilmagem exclui esta possibilidade. Dessa maneira, os efeitos especiais datados da produção original apenas adicionavam mais charme ao filme que, junto com suas roupas coloridas e tema musical composto com longos solos de guitarra e teclado, quase que retratavam o que havia de pop naqueles tempos.
Sem esse extra, a refilmagem, com seus erros e acertos, soa apenas como uma boa história de terrir, com boas atuações e direção, mas com um roteiro mediano. Um bom filme de vampiros, e só.



A Hora do Espanto (Fright Night)
Ano: 2011
Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Marti Noxon
Elenco: Anton Yelchin, Colin Farrell, David Tennant, Toni Collette, Imogen Poots, Christopher Mintz-Plasse e Chris Sarandon

Nenhum comentário:

Postar um comentário