sexta-feira, 18 de março de 2011

Fogueira de vaidades às avessas

Professor Heder Rangel


Heder Rangel (Foto: Arquivo Pessoal)
Há algum tempo li um artigo que falava sobre as funções departamentais de uma agência de propaganda e suas respectivas atividades: a importância de um bom atendimento, a eficiência da criação, a destreza para a produção de imagens, sons, efeitos, como também acerca dos trâmites e desenvoltura no campo de mídia. Tudo estava no devido lugar. Contudo, algo me chamou a atenção: o fato de associarem a figura do publicitário a uma pessoa que estabelece para si certo ponto macro de ebulição, dentro de uma grande fogueira de vaidades. Desde então, tenho pensado sobre isso.

Sei que publicidade é estratégia de comunicação e técnica persuasiva. A gente aprende que os grandes astros e estrelas desta forma de comunicação devem ser os produtos, as marcas e os clientes. E faz sentido. Então, por que a propaganda se apresenta tão fascinante, mas ao mesmo tempo, caracterizada por certa desconfiança social? Por que a beleza dos comerciais, capitaneada pela destreza das técnicas sonora, imagética e textual, quando utilizadas na apresentação e argumentação de ideias, causa, quase que simultaneamente, admiração e ceticismo?


Publicitários, empresas, comerciais, produtoras e veículos estão juntos em uma engrenagem que culmina em instantes produzidos, veiculados, olhados, percebidos, ouvidos. Tudo faz parte do que é mostrado e por ser assim, está aberto a interpretações. Existem, pois, diversas percepções e realidades distintas, mas, provavelmente, não em sua totalidade dissociadas. O que ocorre assemelha-se a uma imagem, que é una, porém, não indivisível. Pode ser que algo ou alguém, dentre tantas manifestações, se sobressaia. Momentaneamente. Isso é até natural. Mas, por que a qualificação de fogueira de vaidades?


As instituições envolvidas no processo de criação, produção e veiculação publicitárias têm, todas elas, um jeito, uma maneira, um toque de operacionalizar a comunicação dentro de um mercado que é um campo de batalhas. Ele tem e dita regras; estabelece contratos; mexe com as pessoas; trabalha mentes e corações. O mercado é ainda luzes ou trevas. Holofote ou bastidor. Contudo, o mercado é também o lugar onde os valores sociais se mesclam. Assim, quero sempre acreditar em mudanças: de entendimento, de trabalho, de competência, de lealdade, de concorrência, de criatividade, de formação.


Creio que os cursos de comunicação social – marketing, jornalismo e publicidade, por exemplo – nos têm ensinado muita coisa. E podem ajudar ainda mais: para que haja o amadurecimento do processo de consciência social, para que as pessoas sejam formadas e informadas sem a pressa de uma administração fácil e desconexa, em que se tem a impressão de um ganho direcionado.


É, talvez, neste espaço que o ilusório pode se estabelecer. E assim, as pessoas costumam repetir ações. E o ciclo se fecha. Será que falo de utopia?


Bem, penso que propaganda é um produto feito por pessoas para pessoas. E acredito que deve haver dignidade, respeito e ética desde o atendimento ao cliente, passando pela concepção do anúncio até a veiculação e a consequente comercialização. Se existe mesmo a tal fogueira de vaidades, eu não sei. Mas, dizem que quem brinca com fogo pode se queimar. E muito.

2 comentários:

  1. Prof. H. Rangel, simplesmente, o melhor.

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  2. Acabei de lembrar de boas aulas ministras por vc ao ler o seu comentario H.Rangel, essa paixao pela propaganda e com a comunicaçao em si é fascinante! Muito bom ter aprendido com vc.Sorte dos seus atuais e futuros alunos.

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