*Cláudio Jorge Gomes de Morais
Prof. Cláudio Jorge (Foto: Arquivo Pessoal) |
Cabe, neste primeiro momento, fazer algumas considerações sobre o livro, A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil, de José Murilo de Carvalho, 1990. Assim, o caráter ideológico do mito Tiradentes na construção do imaginário republicano e a determinação positivista na divisão social das regiões é bastante evidente. A República positivista estabeleceu um consenso no imaginário da população brasileira através de uma narrativa de um herói que através do seu martírio alimentou as carências de uma nação sacrificada e cristã.
Quando esse arquétipo norteou o ensino de história nas salas de aulas percebemos que a dialética estava morta e, com ela, o sujeito, que tinha como principais características a neutralidade, harmonia natural e o misticismo, pois, esse modelo nos levou a acreditar, por muito tempo, em uma imagem até então inquestionável e fundada, principalmente, em um acordo do centro político do país, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas, é a partir da ruptura dessa narrativa que apontaremos uma história para além das relações convencionais.
Forjar um mito para a República não foi uma tarefa fácil. Segundo José Murilo de Carvalho, “Frei Caneca era um competidor mais serio. Herói de duas revoltas, uma pela independência, a outra contra o absolutismo do primeiro imperador, morrera também como mártir, fuzilado, pois nenhum carrasco se dispusera enforcá-lo”. Tiradentes foi ameaçado pela imagem de Frei Caneca que muitas vezes foi aclamado como o verdadeiro mártir da República. No entanto, foi um mártir revolucionário e rebelde não cabia no arranjo do imaginário republicano como vítima e salvador.
A vitória de Tiradentes representou o declínio da economia nordestina, ou seja, a consolidação do modo de produção capitalista no Brasil através da desigualdade entre norte e sul. Na própria afirmação de Carvalho, 1990, “ O Nordeste ao final do século 19, era uma região em decadência econômica e política e não se distinguia pela pujança do movimento republicano”. Esse projeto só foi possível através da confecção e naturalização desse herói dito nacional, desde que não houvesse nenhum elemento revolucionário para incomodá-lo. A vitória do herói-mártir Tiradentes contou com a associação de elementos sofisticados, ou seja, um ritual entre ciência e mito a partir da relação do martírio particular do dito herói e o sofrimento coletivo da sociedade brasileira no viés do imaginário autoritário republicano.
* É Mestre pela UFPE e Professor do Centro Universitário Cesmac
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