terça-feira, 30 de novembro de 2010

“Alagoas de Pierre Verger” é o tema do novo livro de Douglas Apratto e Cármen Lúcia Dantas

Ascom

O historiador Douglas Apratto Tenório e a museóloga Cármen Lúcia Dantas lançam nova obra a quatro mãos. Trata-se do livro “Alagoas de Pierre Fatumbi Verger”, com patrocínio da Chesf, Governo do Estado de Alagoas, Governo Federal e acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger. A noite de autógrafos será realizada nesta quinta-feira (2), às 19h, no Palácio Floriano Peixoto.

O livro, com textos em português e inglês, traz fotos inéditas do célebre fotógrafo francês Pierre Verger que imortalizaram sua passagem por Alagoas nos anos de 1947 e 1951. Em sua primeira viagem ao Estado, Verger passou duas noites e um dia no município de Penedo quando era repórter da revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, que pertencia ao jornalista Assis Chateubriand.

Na sua segunda estadia em Alagoas, Verger permaneceu apenas um dia em Penedo, na companhia de dois grandes amigos: o artista plástico Carybé e o fotógrafo Mário Cravo. Vindos da Bahia de Jipe, eles pretendiam conhecer o artesão Mestre Vitalino, em Caruaru (PE). Mas na volta ainda passaram por Palmeira dos Índios e Delmiro Gouveia com destino a Paulo Afonso - onde Verger fotografou as obras de construção da hidrelétrica da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) para a revista O Cruzeiro.

“Aqui de certa forma, Verger passou ao largo da religiosidade, característica de seu trabalho, para se fixar na estética e nos costumes diários da região”, descreve Cármen Lúcia Dantas, mencionando que foram rápidas, mas produtivas as duas estadias do fotógrafo etnólogo por Alagoas. “Paradoxalmente, o curto espaço de tempo bastou para imprimir no conjunto de sua obra o que havia de mais significativo nos lugares onde viajou”, reflete.

Segundo Cármen, rapidamente Verger conseguiu captar a alma e o modo de vida da cidade de Penedo da primeira metade do século XX. No livro, é possível contemplar imagens de banhos no rio, da fé, da força física e da estética da população penedense da época.

“É evidente que as embarcações exerceram um fascínio especial sobre o fotógrafo que dedicou a elas grande parte de sua atenção. Verger mapeou diferentes tipos de embarcações, com ênfase nas de velas abertas, fornecendo subsídios para comparativos entre o que se perdeu e o que resistiu ao tempo”, diz a museóloga. “Pode-se dizer que o conjunto de suas fotos compõe um mosaico imagético de cenas bem articuladas, onde a rotina do lugar aparece em primeiro plano”, reforça.

A ideia de criação desta nova obra de autoria dos amigos Cármen e Douglas se deu em 2006, quando ela foi convidada para colaborar com construção do catálogo da mostra itinerante “O Brasil de Pierre Verger” – que percorreu vários estados brasileiros até 2007 -, se dedicando ao capítulo com as fotos sobre as embarcações de Penedo, no Rio São Francisco. “Nessa ocasião tive a oportunidade de conhecer melhor o acervo brasileiro e alagoano do artista e tive uma grata surpresa. O registro que ele fez de Alagoas era simplesmente lindo, repleto de significado. A partir daí decidimos fazer a pesquisa que resultou em um calendário, com patrocínio da Fapeal em 2009, e que foi ponto de partida para publicação destelivro”, conta a museóloga.

De acordo com Douglas Apratto, para além da fotografia em si, o trabalho de Verger em Alagoas tem um sentido documental reiterado pelo fato de que boa parte dos costumes assinalados por ele sofreu mudanças significativas nas últimas décadas. “Mantendo a máxima de que fotografar é atribuir importância, Verger mostrou-se generoso na seleção dos objetos que encontrou no Estado. Em Penedo, foi do cotidiano ao histórico com a mesma maestria”, diz.

“O período que Verger passou em Alagoas é de grandes transformações no Estado e no Brasil. É a era do mundo bipolarizado, de cicatrizes malcuradas do conflito mundial, do capitalismo norte-americano contra a ameaça soviética e a cortina de ferro, em que os ecos da grande guerra contra o fascismo e o nazismo ainda ressoam em todos os ouvidos. Getúlio Vargas continuava sendo um mito, adorado e odiado na mesma proporção, e a efervescência política da redemocratização de 1945 chega com intensidade a todos os estados”, relembra o historiador.

Para ele é nítido o fascínio que a Alagoas miscigenada e sertaneja exerceu sobre o fotógrafo. “Verger se deparou com o mestiço local sem nenhuma produção preparatória, sem qualquer pose artificial; um jangadeiro arrumando sua embarcação para sair rumo à pescaria; um trabalhador em breve descanso de sua lida barrageira; uma cabocla contando pencas de banana em plena feira interiorana; mulheres cachimbando em agradável diálogo; a religiosidade popular nas procissões e nas cruzes erigidas nas caatingas são provas incontestes de que a técnica fotográfica se integra definitivamente à história como instrumento de preservação e da identidade dos povos”, afirma.

Sobre Pierre Verger - Pierre Fatumbi Verger nasceu em Paris no ano de 1902 no seio de uma típica família burguesa de origem belga e alemã. Até os 30 anos levou uma vida convencional dentro das expectativas familiares. Mas, após a morte de sua mãe, Verger decidiu dar uma volta ao mundo com a inseparável câmera Rolleiflex e registrou a diversidade geográfica, cultural e étnica de países dos cinco continentes.

Durante a trajetória de fotógrafo errante, de 1932 a 1946, Pierre Verger sobreviveu da produção fotográfica, publicando seus trabalhos em renomadas revistas como a Paris Soir, Daily Mirror (sob o pseudônimo de Mr. Lensman), Life e Match. "A sensação de que existia um vasto mundo não me saía da cabeça e o desejo de ir vê-lo me levava em direção a outros horizontes", afirmou certa vez. Em todos os lugares em que esteve Verger manteve um estilo de vida despojado, buscando se cercar de pessoas simples. Criar raízes e conquistar fama não estava entre os seus objetivos.

Contudo, ao desembarcar no Brasil, mais especificamente na Bahia, Pierre Verger descobriu uma nova paixão: a cultura do povo afro-descendente, do qual se tornou um grande estudioso. Na Bahia, o artista se tornou amigo das maiores personalidades baianas do século XX, entre elas Jorge Amado, Mãe Menininha do Gantois, Gilberto Gil, Walter Smetak,Mario Cravo, Cid Teixeira e Josaphat Marinho. Seu trabalho influenciou notadamente nomes consagrados da fotografia contemporânea como Mario Cravo Neto, Sebastião Salgado, Vitória Regia Sampaio, Adenor Gondim e Joahbson Borges - seu último assistente, apontado pelo próprio Verger como seu sucessor natural.

Na visão dele, o candomblé era a fonte da vitalidade do povo baiano e foi graças ao interesse despertado pelo culto dos orixás que o artista ganhou uma bolsa para estudar os rituais religiosos africanos na própria África. "O Candomblé é para mim muito interessante por ser uma religião de exaltação à personalidade do indivíduo. Nele pode-se ser verdadeiramente como se é, e não como a sociedade pretende que o cidadão seja. Para pessoas que têm algo a expressar através do inconsciente, o transe é a possibilidade do inconsciente se mostrar", disse. Vale ressaltar que Pierre Verger era ateu confesso.

E foi na África que o fotógrafo descobriu sua vocação para a pesquisa e viveu seu renascimento, recebendo o nome de Fatumbi - que significa nascido de novo graças ao Ifá (búzios - concha adivinhação). O Instituto Francês da África Negra (IFAN) não se contentou com os dois mil negativos apresentados como resultado da sua pesquisa fotográfica e solicitou que ele escrevesse sobre o que tinha visto. A contragosto, Verger obedeceu e acabou encantando-se com o universo da pesquisa e não parou nunca mais.

No final dos anos 70, Pierre Verger parou de fotografar e fez suas últimas viagens de pesquisa à África. Seus trabalhos lhe valeram o título de Doutor em Etnologia pela Universidade de Paris, Sorbonne, e também o de Babalaô pelo Candomblé. O artista morreu em 1996, aos 94 anos, deixando um legado formado por 65 mil negativos, gravações sonoras, filmes, coleção de documentos, artigos, manuscritos, livros e objetos preservados pela Fundação Pierre Verger, criada por ele mesmo em 1988.

Serviço:

Lançamento do livro “Alagoas de Pierre Fatumbi Verger”

Autores: Douglas Apratto Tenório e Cármen Lúcia Dantas

Data: 02/12/10

Horário: 19h

Local: Palácio Floriano Peixoto, Centro de Maceió.


Nenhum comentário:

Postar um comentário