Vencendo os obstáculos, crianças cegas superam preconceitos e conseguem ter uma vida normal
Fabyane Almeida
Fotos: Fabyane Almeida
Superação é uma palavra conhecida no universo das crianças que possuem deficiência visual. Para elas, dificuldades sempre vão existir, mas apoio, estímulo e acompanhamento da família são essenciais para vencer os obstáculos diários. Muitas crianças cegas sofrem com o preconceito da sociedade, que não os recebe com a atenção que merecem. Algumas são discriminadas dentro da própria casa e tornam-se crianças retraídas, com o desenvolvimento abaixo do esperado.
Superação é uma palavra conhecida no universo das crianças que possuem deficiência visual. Para elas, dificuldades sempre vão existir, mas apoio, estímulo e acompanhamento da família são essenciais para vencer os obstáculos diários. Muitas crianças cegas sofrem com o preconceito da sociedade, que não os recebe com a atenção que merecem. Algumas são discriminadas dentro da própria casa e tornam-se crianças retraídas, com o desenvolvimento abaixo do esperado.
Para Alex Leite, de 12 anos, o fato de ele não poder ver não o torna uma pessoa infeliz. Alex é um dos que vêm se superando e hoje já consegue ter independência apesar da deficiência visual.
A deficiência do garoto foi identificada assim que ele nasceu, e o rápido diagnóstico contribuiu para o seu crescente desenvolvimento. Segundo Maria Vieira de Lima, mãe de Alex, é muito gratificante vê-lo superando seus limites. “Meu filho nasceu com a deficiência visual. Quando ele tinha 1 ano, eu o trouxe para a escola de cegos, onde aprendeu a ser uma pessoa independente”, disse.
A vida do garoto é cheia de sonhos. Ele está matriculado no sexto ano do Ensino Fundamental e participa de provas orais. Quando sente dificuldade com os assuntos, o menino pede ajuda à Escola de Cegos Cyro Accioly, que lhe oferece apoio. Alex vai da escola para sua casa acompanhado apenas dos amigos. “Eu sempre o deixei bem à vontade, orientando que descobrisse as coisas, para buscar a sua independência. E o Alex possui uma força de vontade de querer vencer que contribui para isso. Ele afirma que já está apto para andar só, mas eu ainda me sinto insegura com a violência na cidade”, completou a mãe.
Andar de bicicleta, nadar na piscina, jogar videogame e brincar no computador são coisas que o menino mais gosta de fazer em seu tempo livre quando não está estudando braile. “Eu sei cozinhar, já sei andar só. Vou ao supermercado, mas tenho medo de que me derrubem na escola, pelo fato de ela ser grande e ter muitos alunos. Agora, que ganhei uma bengala nova, vai ficar mais fácil de me locomover”, disse Alex.
Apoio escolar ajuda na inclusão
A Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly dá o suporte necessário aos alunos deficientes visuais, como: leitura e escrita Braile; aulas de orientação e mobilidade, que favorece a independência, autoconfiança e integração social; aulas de Atividades da Vida Autônoma (AVA) onde são desenvolvidas atividades ligadas aos afazeres do cotidiano.
A escola promove trabalhos intensos para o desenvolvimento autônomo de cada pessoa que busca a inclusão no meio sociocultural. O apoio educacional vai desde estimulação psicológica a orientação de tarefas.
De acordo com a coordenadora da escola, Josira Silva, a criança, quando passa a frequentar as atividades, torna-se uma pessoa curiosa e acaba perdendo o medo do mundo externo. “A criança é alfabetizada no braile e recebe toda a base e preparação para que, a partir dos 4 anos, seja incluída numa escola regular. E depois ainda continua recebendo o apoio da escola na reabilitação e pedagogia”, disse a coordenadora da escola.
Cerca de 50 alunos estão inseridos nesse sistema. Segundo Josira, as crianças que perdem a visão gradativamente necessitam de um acompanhamento psicológico para aceitar a nova condição de vida. “Já a adaptação de quem nasce com a deficiência é mais fácil, porque ela nunca enxergou, não existe o sentimento de perda ou de limitação”, destacou.
Atividade física é fundamental
O professor Gedivaldo Bastos realiza um trabalho de estimulação com Débora Vitória, de 6 anos, no objetivo de fazê-la andar. Segundo ele, a atividade física tem destaque no desenvolvimento das crianças cegas.
A menina Débora não passou pela fase do engatinhar; por isso, ela tem muita dificuldade de locomoção. “A Débora caiu. Com isso, ela adquiriu um trauma que dificulta ainda mais. A nossa batalha é que ela tenha autoconfiança em si mesma”, disse o professor.
Devido ao trauma da queda que levou, Débora se recusa a tocar em objetos que não conhece. “A visão do cego é o tato. Então, ela se recusa a tocar em tudo que lhe é estranho. Mas, segundo a mãe, Débora se encontra bem mais relaxada em casa. Ela melhorou muito, respondendo cada vez melhor aos trabalhos com o arco e a bola, equipamentos que estimulam o som”, completou Gedivaldo Bastos.
Além do trabalho de estimulação, a menina também faz tratamento com fisioterapeuta, ecoterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo. Todos trabalham focados na parte motora e emocional, visando ao equilíbrio para que ela tenha mais força na hora de levantar e andar.
Exemplo de determinação
Limitação é uma palavra que não existe na vida de Izabelly Santos, de 8 anos, que nasceu prematura, teve deslocamento de retina e perdeu a visão. Mais conhecida como Belinha, ela é descrita pelos amigos como inteligente e fácil de fazer amizades. Ela está matriculada na alfabetização de uma escola regular e recebe o apoio da escola de cegos com aulas de reforço, orientação e mobilidade, além de educação física e aulas de hidroterapia e ecoterapia para melhorar o equilíbrio.
A mãe de Belinha, Siene dos Santos, não vê limitações na vida da menina. “Ela é bem articulada; tudo me pergunta, e faço questão de responder. Acompanho minha filha 24 horas por dia. Nós somos como irmãs; participo de todo processo de sua independência, porque penso num futuro sem a minha presença”, explicou.
“Muitos pais não aceitam o filho da maneira que são. Eles têm vergonha; ficam sem querer sair de casa. Quando saem, ou é muito cedo ou muito tarde para que ninguém veja ou faça muitas perguntas. Mas esses pais precisam entender que elas devem ter uma vida normal e, futuramente, uma profissão”, completou Siene.
A menina tem um cotidiano bem parecido ao das crianças que enxergam. Izabelly disse que seus dias são atarefados e que, além das inúmeras aulas que frequenta, também gosta de boneca e andar de bicicleta.
O braile produz conhecimento
O código braile é composto por uma combinação de pontos dispostos em uma célula de três linhas e duas colunas. Através da combinação desses símbolos, o deficiente visual pode realizar a leitura e a escrita de qualquer tipo de texto.
Atualmente, existem máquinas de escrever adaptadas para a confecção de textos em braile e computadores com programas adaptados de voz (dosvox) que conseguem transformar um simples comando de voz em um texto adaptado a esse mesmo código. O sistema braile abriu um campo de possibilidades que irrompe com as limitações impostas pelo corpo. Mesmo sem a visão do mundo material, os cegos podem produzir conhecimento, realizar projetos e, principalmente, sentir o mundo à sua maneira.
ESCOLA - A Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly, localizada na Rua Pedro Monteiro, no bairro do Centro, atende a todas as pessoas que tenham qualquer tipo de deficiência visual. A escola oferece tratamento com psicólogas, aulas com professores de educação física, teatro e informática, além do reforço do material escolar.
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