quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Consciência jogada no lixo

De 1.400 toneladas de lixo produzidos por dia em Maceió, menos de 1% é aproveitado para reciclagem


Ana Paula Silva
Fotos: Ana Paula Silva e divulgação
Infográfico: Slum

A coleta seletiva em Maceió existe, porém menos de 1% do lixo produzido na capital é aproveitado pelos catadores das cooperativas que trabalham com a separação desse material. A Superintendência de Limpeza de Maceió (Slum) só recolhe o lixo reciclável nos bairros quando é acionada. Ou seja, o morador precisa solicitar o serviço, já que não é uma rotina do órgão fazer esse trabalho em todas as ruas da capital. Mas, e a população? Será que tem conhecimento desse serviço? Basta percorrer alguns bairros de Maceió para perceber que ainda não existe uma educação ambiental voltada para o reaproveitamento e reciclagem do lixo doméstico.

O radialista Orlando Batista, que mora no bairro do Farol, disse que pretende reunir os moradores do prédio onde mora para fazer um trabalho de coleta seletiva no condomínio, mas se surpreendeu quando soube que pode ser feita através de cooperativas ou da Slum. “Tenho vontade de fazer esse trabalho no condomínio, mas não sabia que podia acionar a prefeitura para coletar o lixo separado pelos moradores. É mais higiênico e o lixo pode ser aproveitado sem desperdício”. Já o jornalista Waldemir Rodrigues, morador do bairro da Jatiúca, faz a coleta seletiva há um mês e garante que é bom para quem faz e para o meio ambiente. “Primeiro pela praticidade, quando mistura o lixo orgânico com o reciclável não acomoda bem no saco acumula em demasia. Segundo é que você tem a oportunidade de fazer alguma coisa para não ver tanto desperdício”. Ele disse ainda que um caminhão da Slum passa todas as segundas-feiras no bairro.

De acordo com o superintendente da Slum, Ernandes Baracho, Maceió produz 1.400 toneladas de lixo por dia. Desse total, cerca de 800 toneladas são de lixo orgânico e o restante são entulhos e podas de árvores. Somente 1% desse lixo é recolhido pelos catadores nas empresas, residências e condomínios. “A população deve separar o lixo seco, que são latas, garrafas pets, plásticos, enfim todo material reciclável. É só juntar tudo e ligar para a Slum que um caminhão passa na rua para fazer a coleta”, explicou Baracho. O material recolhido pela prefeitura é doado para as cooperativas que fazem a separação do lixo e vendem para os atravessadores, donos de ferros-velhos que repassam para as fábricas de reciclagem de outros estados do Nordeste.

Apenas três cooperativas e uma associação de bairro trabalham com a coleta seletiva em Maceió: Cooplum (Cooperativa dos Recicladores de Lixo Urbano de Maceió), CoopVila (da Vila Emater), Cooprel (Cooperativa de Recicladores do Estado de Alagoas) e Ampita (Associação de Moradores do Bairro da Pitanguinha, que foi a pioneira). Além disso, são três caminhões da prefeitura disponíveis para auxiliar nesse trabalho e atender a comunidade nos dias previamente agendados com a Slum. De acordo com o coordenador da coleta seletiva em Maceió, Alessandro Alves Feitosa, a Cooplum e Cooprel recolhem por mês, cada uma, cerca de 50 toneladas de lixo. Dessa quantidade, os catadores só conseguem vender de 12 a 15 toneladas. “Os materiais como copo plástico, embalagem longa vida, revista, entre outros, não têm como ser repassados para os atravessadores pela falta de fábrica no nordeste para tratar esses resíduos e termina indo para o aterro sanitário, no Benedito Bentes”, explicou. Já Coopvila e Ampita recolhem de 5 a 6 toneladas por mês.

Para Alessandro Feitosa, a cidade de Maceió precisa de uma fábrica de reciclagem e de uma organização maior por parte dos cooperados. “Hoje as cooperativas não podem vender diretamente nas fábricas porque não tem a documentação necessária que exige uma empresa. Só agora que elas estão começando a se preocupar com isso”. O material que serve para reciclagem é vendido pelos atravessadores para Paraíba, Bahia e Pernambuco. Alessandro falou ainda que com a construção do aterro sanitário a prefeitura, através da Slum, está ampliando esse trabalho de coleta seletiva nos bairros, mas reconhece que é um processo lento. “É um trabalho de formiguinhas porque primeiro tem que educar a população. Ir de porta em porta para explicar como se deve separar o lixo. Tem gente que separa como recicláveis fraldas sujas e papel higiênico usado. Não é um processo que acontece do dia para a noite”, explicou.

Terrenos baldios

Já os terrenos baldios têm se tornado pontos de depósito de lixo em vários bairros da cidade. Na Avenida Jatiúca têm dois terrenos que foram tomados pelo lixo. Próximo à feirinha, moradores denunciam que carroceiros e feirantes jogam entulhos e restos de alimentos no local. “O mau cheiro aqui é insuportável, até restos de galinhas abatidas nas avícolas são trazidos para cá”, reclamou dona Maria José, moradora do bairro. Já em frente à farmácia Permanente, um terreno baldio que servia de depósito de lixo e de pneus velhos foi limpo e cercado. O problema agora é que as pessoas estão jogando o lixo na calçada. Sobre esse terreno Alessandro informou que dois donos de restaurantes já foram autuados pelos fiscais da Slum.

Cada gerador de lixo, empresas e residências, pode produzir até 100 litros de resíduos por dia. A partir dessa quantidade é preciso contratar uma empresa terceirizada para recolher o material. “Por isso que muitas empresas pagam aos carroceiros para jogar o lixo em terrenos. Outras estão aderindo à coleta seletiva, é uma maneira de economizar e ajudar ao meio ambiente”, explicou Alessandro. A Slum desenvolve ações educativas e palestras em condomínios e empresas que queiram aderir à coleta seletiva. Para isso, é necessário ligar para os números 3315-5002 ou 3315-2600 e solicitar a visita.

TAC

Em agosto de 2005, a prefeitura de Maceió assinou com os Ministérios Públicos Federal e Estadual um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) onde, dentre outras exigências, cabe ao município promover, implementar e operacionalizar uma política pública de coleta seletiva dos resíduos sólidos urbanos, e uma das metas é a implantação de um Ponto de Entrega Voluntária (PEV) por bairro, o que totaliza cinqüenta PEVs. Hoje a população pode entregar sua coleta nos PEVs das redes Bombreço e Extra, no G Barbosa do Stela Maris, em frente à escola municipal Ana Coelho no bairro de Jacarecica, no PM Box do Stela Maris, na Unimed do Farol e na Universidade de Ciências Médicas de Alagoas (Uncisal).

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