quarta-feira, 18 de maio de 2011

E Portugal redescobre o Brasil: artistas alagoanos no além-mar...

Cecília Tavares

Foto da fachada do Espaço Anémona
 e seu jardim vertical.
(Foto: Cecília Tavares)
Foi-se o tempo em que os portugueses daqui só levavam o pau-brasil e o ouro. Passados mais de 500 anos do nosso descobrimento, e deixadas as mágoas da exploração em segundo o plano, os portugueses nos redescobrem. Agora, na arte.

Marta Emília e Pedro Lucena, artistas alagoanos, irão expor, a partir de setembro, na galeria de arte do Espaço Anémona, na cidade do Porto, em Portugal. O convite partiu da também alagoana Manaíra Athayde, jornalista e diretora de arte da galeria. “A idéia surgiu da minha necessidade de levar diretrizes da cultura alagoana para Portugal, já que tive a oportunidade de viabilizar o projeto, ao assumir a direção da galeria de arte do Espaço”, explica a jornalista.

O Espaço Anémona localiza-se no coração cultural da cidade do Porto, na Travessa da Cedofeita, n° 62. É um espaço plural, inspirado no desenvolvimento sustentável, que possui galeria de arte, café, estúdio e loja, tudo revestido por um jardim vertical, com espécies nativas, onde é possível fundir natureza e cultura.  “Uma das principais estirpes do projeto da Galeria de Arte Anémona é atrelar Cultura e Natureza. Não apenas a forma orgânica que fomenta a arte dos artistas convidados, mas a própria essência do trabalho de cada um reflete a dinâmica genuína quando o homem contempla a Natureza, não como uma parte extrínseca, mas como a componente vital da natureza humana.”, esclarece a diretora.

Atualmente, o projeto da galeria está voltado para as artes plásticas e a produção de objetos de design.  Segundo Athayde, a escolha dos artistas que irão expor na galeria envolve duas diretrizes principais: a criatividade, “porque é dela que vem a originalidade e o valor único agregado à obra” e o bom acabamento, “a maneira como a idéia do artista é materializada”, explica a diretora, que acredita que os dois artistas escolhidos possuem tais aspectos. “Tanto a Marta Emília quanto o Pedro Lucena apresentam essas estirpes universais, estes valores artísticos que são relevantes em qualquer lugar que se esteja.”

Outra medida de avaliação dos artistas é o modo como o Brasil e Alagoas aparecem no trabalho do artista. “Não procurei associações figurativas, mas a essência maior do trabalho, que reflete a maneira de ser brasileiro e de ser alagoano”. Para exemplificar, a jornalista cita a obra de Marta Emília, que tem cores muito vibrantes, próprias de alguém que nasceu e convive ou, ao menos, conviveu com elementos de cores diversas. “O azul do céu e do mar de Alagoas, o colorido do nosso folclore, tudo isto coexiste na obra da Marta Emília que, no entanto, tem apenas formas geométricas e cores. A obra não precisa recorrer ao figurativo para falar do espaço.”.

A alagoana Marta Emília inaugura sua exposição no dia 09 de setembro, permanecendo até o final de outubro. A artista desenvolve painéis gigantescos, confeccionados com papéis ofício pintados com tinta guache e recortados em formas geométricas minúsculas. Em sua exposição, denominada “Marta Emília”, serão expostos oito quadros, dois painéis e algumas instalações.

Já o artista Pedro Lucena, que é também ilustrador, inaugura a exposição “Ciscos” no dia 03 de novembro, permanecendo até o final de dezembro. Lucena irá expor 15 quadros, baseados na composição de esculturas feitas por artesãos na Ilha do Ferro (próxima à cidade de Pão de Açúcar), juntamente com a obra poética do mato-grossense Manoel de Barros. “O cisco reflete a modernidade, o urbano de meu trabalho, que encontra os ciscos do chão da Ilha do ferro e os ciscos de Manoel de Barros. O cisco também tem a ver com o Rio São Francisco, próximo ao povoado. O cisco remete ao micro, a esse universo do chão de onde os artesãos da Ilha do Ferro recolhem a madeira onde eles moldam seus universos, suas impressões do mundo.”, filosofa o artista.

Segundo a diretora, o objetivo principal do projeto é retirar a visão estereotipada da arte alagoana, ainda dos séculos XVIII e XIX. “Não somos mais as ‘Alagoas dos barquinhos pintados no fim de tarde’, mas sim um lugar que produz Arte Contemporânea de qualidade, quer seja na ideologia, quer seja no conceito”. A jornalista vai além, com a preocupação de valorizar a produção madura dos artistas da nossa terra para os próprios alagoanos. “Não é uma mera propaganda de Alagoas representando o Brasil. É uma maneira de mostrar que há muita gente aqui produzindo obras de arte com valores universais, numa linguagem que dialoga com outros povos, sem olvidar das nossas cores, das nossas formas, da nossa maneira de ser”, conclui Athayde.

|Serviço| Para os artistas que tiverem interesse em expor em Portugal, as próximas exposições serão definidas pela submissão de projetos por meio do e-mail geral@eanemona.com

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