sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quem é o dono da notícia?

Edberto Ticianeli

O saber e o poder têm uma longa história de convivência nas diversas estruturas sociais construídas pelas relações humanas. Hora em campos opostos ou, na maioria das vezes, em harmonia. Todavia, quem detém o saber, sempre procura dominar a informação e controlar os veículos que a transforma em notícia. Todo esse processo é voltado para garantir a hegemonia de uma classe sobre outra. A própria história sempre foi escrita pelos vencedores.

Na vida tribal o chefe é o detentor das técnicas de caça e coleta. É ele que sabe a localização das melhores trilhas para os deslocamentos do seu povo e guarda a história de conquistas, dos embates, dos feitos e poderes dos seus deuses. Na Idade Média esse conhecimento já é grafado, mas mantido sob cuidadoso controle pelo poder aristocrático e religioso.

Quem lê a história desse período vai perceber que ela é realizada somente por senhores feudais iluminados, escolhidos por deuses para conquistarem grandes feitos nas guerras pela posse da terra. Sem esquecer que, convenientemente, apoiados por igrejas ansiosas por amealharem um pedaço das riquezas terrestres, mesmo à custa de atrocidades contra o ser humano.

É ainda na Idade Média, principalmente no seu final, que o acúmulo da experiência humana começa a navegar entre vários povos. As grandes navegações vão proporcionar a troca de informações sobre o saber-fazer, espalhando lentamente o conhecimento técnico e o desenvolvimento da capacidade produtiva do trabalho.

Essas foram às premissas que permitiram a acumulação de enormes riquezas nas mãos dos mercadores e fizeram nascer uma nova classe social. A obstinada busca pelo aumento da capacidade humana de produzir mercadorias revolucionou o mundo ao libertar as forças da ciência. O parto da burguesia, entretanto, não foi pacífico. Ela teve que derrotar violentamente os velhos regimes para impor o que se convencionou chamar de modernidade. É nesse entrevero de forças e de idéias que a burguesia amplia o papel da imprensa. Num segundo momento, passa a ser fonte de lucro, transformando a notícia também numa mercadoria, mas sem deixar de cumprir o seu ofício de porta-voz dos valores da nova classe dominante.

Como mercadoria, a notícia vai se adaptando cada vez mais às necessidades do freguês. A imprensa vai divulgando preferencialmente o que vende jornal ou aumenta a audiência: a lógica é a do lucro. Com isso, a informação sensacionalizada ganha espaço nobre e, o espetáculo de horrores afasta o cidadão do pensamento crítico e transforma a notícia em entretenimento.

Por mais que existam profissionais de imprensa com domínio técnico, preparados pelas academias para perseguirem a máxima imparcialidade possível, o que vai se transformar em noticia nas grandes empresas de comunicação não é a honesta cobertura de um acontecimento, mas sim o que determinar as relações econômicas da empresa. A lógica capitalista sempre vai procurar submeter o saber ao seu poder e a imparcialidade será sempre sua inimiga. Ao profissional de imprensa, sobra - como um simples mortal apartado do poder - encontrar as brechas para estimular o conhecimento como fonte para a construção de uma sociedade melhor e mais justa, em que o ser humano seja valorizado pelo saber.

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