segunda-feira, 26 de setembro de 2011

In Memoriam - A Última Sessão de Namorados Para Sempre no Cine Sesi Pajuçara

José Aragão -  6º período de Jornalismo

Às 15 horas e 20 minutos, em ponto, o retroprojetor da sala de cinema do Centro Cultural Sesi Maceioense começou a exibir a última projeção de “Namorados Para Sempre”, que estreou na capital no dia 2 de Setembro, mais de um mês de atraso de sua estréia oficial, no dia 10 de Junho.

De acordo com Marcos César Sampaio, coordenador do Cine Sesi Pajuçara, “Namorados Para Sempre” foi um péssimo título para a produção. “Algumas pessoas entraram no cinema esperando um filme açucarado e saiam no meio da sessão”, reclama Sampaio. Ainda assim, ele afirma que a fita foi uma das melhores que o Cine Sesi já exibiu, ressaltando que “as sessões das 8 da noite sempre estavam cheias” e o fato de a película ter estado em cartaz durante três semanas confirma o sucesso.

Enquanto a crítica parece ter se encantado com a história do casal Cindy e Dean, o público maceioense parece ter se dividido entre ótimo e terrível. A universitária Anália Correia está no último grupo. “É um bom filme, mas o casal se torna insuportável”, declara a universitária, também definindo o filme com apenas uma palavra: “Tédio”. Janine Nobre, uma das poucas pessoas a prestigiarem a última sessão do filme, deu ênfase à força da produção, exemplificando uma cena de sexo. “A cena do banheiro foi muito pesada. Me surpreendi”, destacou.

Por sua vez, Derivaldo Andrade, editor do site It’s Mag, está do lado daqueles que gostaram da fita, elogiando as atuações dos dois jovens atores que, de acordo com Andrade, “contaram com muita força uma história densa e pessoal”. A estudante de jornalismo Natália Souza também faz parte da turma que aprovou a produção. “O filme foi intenso e envolvente”, afirma Natália.


“Namorados Para Sempre” foi dirigido por Derek Cianfrance e rendeu uma indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro por melhor atriz para Michelle Williams, além de uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator para Ryan Gosling.

“Nobody, baby, but you and me”

Qual a lógica que serviria para unir duas pessoas pelo resto de suas vidas? Se formos apenas animais, nossos instintos não correspondem à ideologia monogâmica que tal união necessita. Mas também somos humanos, o que significa que temos necessidades especiais, diferentes dos muitos outros animais. Precisamos de afeto, companhia, amor. Precisamos de outras pessoas.

E se seguirmos o velho ditado, estabelecendo uma pessoa como um universo inteiro, o que acontece quando duas pessoas colidem? O que acontece quando dois poços de necessidades, idéias e filosofias diferentes se unem? Estas e muitas outras parecem ser as indagações que Derek Cianfrance deseja analisar em seu “Blue Valentine”, erroneamente traduzido para o português brasileiro como “Namorados Para Sempre”. Para isso, ele e mais dois roteiristas (Joey Curtis e Cami Delavigne) criam Cindy e Dean, duas pessoas que tomadas por um momento de flerte, tristeza e desespero, resolvem unir-se em matrimônio.

Um dos aspectos mais fascinantes da produção é sua montagem, concebida por Jim Helton e Ron Patane, que varia entre o início e término do relacionamento dos protagonistas. Dessa forma, o filme toma a liberdade de contrastar momentos de pura fúria com momentos de profunda ternura, como quando observamos uma declaração de amor seguida por uma violenta discussão. Esta alternância também beneficia o ponto de vista sobre os personagens. Se testemunhamos, e condenamos, a reação de Dean pelo fato de que Cindy encontrou-se por acaso com um antigo namorado em um supermercado, somos surpreendidos quando finalmente entendemos o motivo para o ciúme do rapaz (e devo confessar que parte de mim concorda com a reação).
Mas a produção não se concentra apenas em momentos de grandes desabafos e conflitos. Detalhes também são evidenciados e existem muitos deles ao decorrer da exibição.

Um leve toque rejeitado, que diz muito sobre um personagem, um leve sorriso de contentamento, uma piada de humor negro, tudo isso ajuda para que os personagens se tornem próximos de nós. E esta aproximação deve-se e muito às performances de Michelle Williams e Ryan Gosling, auxiliados pelo ótimo trabalho de maquiagem. Enquanto conhecemos Cindy como uma garota sonhadora e esperançosa, conhecemos Dean como um jovem evidentemente pobre, mas carinhoso e romântico. Com a evolução dos personagens, entendemos o motivo do ressentimento de Cindy, agora uma mulher feita, para com seu casamento. Do mesmo jeito que entendemos o alcoolismo de Dean e suas explosões de raiva.

Os coadjuvantes também recebem um bom tratamento, podendo ser destacadas duas ótimas performances: a avó e o pai de Cindy, interpretados respectivamente por Jen Jones e John Doman. Jones, como a avó de Cindy, cria em poucas cenas uma personagem que amargura um passado monótono e entrega uma das falas mais melancólicas do roteiro (quando Cindy pergunta para sua avó se ela já esteve apaixonada pelo marido, ela responde “Não. Talvez um pouco no começo”). John Doman, por sua vez, apresenta um pai cruel, mas que alcança redenção ao estabelecer-se como uma figura carinhosa e protetora para sua neta.

Porém, mesmo com a produção exibindo uma realidade tão dura, consegue encontrar alguns pontos de alegria também, como o amor que Cindy e Dean compartilham por sua filha. Pequenos pontos de esperança como esse estão espalhados pela projeção, dando ao drama um gosto agridoce que ecoa na bela trilha de Grizzly Bear, que inclui a inédita “You and Me”, da extinta banda Penny & The Quarters, responsável por dois brilhantes momentos: um de absoluta comunhão e outro de cruel nostalgia. E mesmo que perca um pouco de seu realismo quando intercala uma importante ligação de Cindy ao mesmo tempo em que um ato violento é cometido contra Dean, o filme mostra-se sóbrio por grande parte de sua projeção.

Mas mesmo esta falha torna-se um pecadilho quando chegamos ao final do filme e os créditos surgem com fogos de artifício estourando na tela, que tem como pano de fundo fotos de momentos alegres da recém-desfeita família. A mensagem parece ser direta: podemos sofrer bastante graças ao nosso convívio com outras pessoas, mas são estas mesmas relações que nos entregam os momentos mais marcantes e felizes de nossa curta existência.

Namorados Para Sempre (Blue Valentine)
Ano: 2010
Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Cianfrance, Cami Delavigne e Joey Curtis
Elenco: Michelle Williams, Ryan Gosling, John Doman, Jen Jones, Mike Vogel e Faith Wladyka

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