quinta-feira, 2 de junho de 2011

Xingó e o canal do sertão em pauta com o professor Ignacy Sachs

Cecília Tavares

Reunião da AFAL com a presença do Professor Sachs.
(Foto: Ascom/Seplande)
Na primeira semana do mês de maio, o socioeconomista francês, professor emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da Universidade de Paris, Ignacy Sachs, esteve em Maceió para reunião com a Agência de Fomento de Alagoas (AFAL). Codiretor do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, Sachs é conselheiro da AFAL e participa das reuniões anuais com a agência, para discutir e buscar soluções viáveis para os diferentes problemas que ocorrem no estado. Desta vez, estava em pauto o Plano de Desenvolvimento Estratégico (PDE) da Sub-Região de Xingó.

A discussão centrou-se na busca de alternativas para o desenvolvimento sustentável da região.  Sachs entende que Xingó, por ser uma região localizada no semi-árido e ter o privilégio de ser banhada pelo Rio São Francisco, merece um olhar diferente. Sob o ponto de vista político, o economista acredita que ela não pode ser vista apenas como uma microrregião, mas como uma área que tem a gestão de quatro estados (Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais), com governos de variadas correntes políticas, o que precisa ser encarado como uma vantagem. “Os estados precisam se unir, interagir e cooperar localmente, para negociar as melhorias com o governo federal. É preciso reconstruir esse diálogo político das discussões sobre o semi-árido, uma vez que temos uma SUDENE inativa. Acredito que Xingó é uma bela oportunidade para isso”, explica Sachs.

Ignacy Sachs: o principal teórico do ecodesenvolvimento.
(Foto: Ascom/Seplande)
Sob a ótica do conteúdo, Sachs lembra a iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), há onze anos, que tentou instalar o instituto de pesquisa do semi-árido, o qual nunca prosperou, não sendo definido que projetos deveriam ser levados adiante.  Esse novo impulso, acredita o socioeconomista, deve encaminhar o futuro do semi-árido, com uma boa gestão da água e, a partir daí, devem ser instituídas as diretrizes de todo o semi-árido brasileiro. A ideia é estabelecer um tipo de desenvolvimento que não seja excludente. Também não deve ser descartada a possibilidade de cooperação com outros países. “Xingó deve ser encarado como um laboratório em escala real. E para isso, temos que contar com a colaboração de países com experiências semelhantes, como a Índia e África”, afirma o professor.

O projeto de Xingó deve focar o aproveitamento dos recursos renováveis do semi-árido: sol, água e terra. Sachs questiona que tipos de sistemas de produção podem ser propostos para o aproveitamento da interface entre a disponibilidade de água e sol, e sugere a piscicultura como uma atividade possível. “A produção de peixes de grande valor de mercado em tanques-rede pode ser integrada à produção agrícola. E não só, é possível também agregar atividades de apoio logístico e de suporte a esses sistemas de produção, como por exemplo, fábricas de gelo, de embalagem, comércio de equipamentos de pesca, fábricas de ração, entre outros”.

Sachs falou ainda sobre o Canal do Sertão. O professor acredita ser extremamente importante enxergar a oportunidade de privilegiar os pequenos produtores locais, indagando qual o tipo de organização social e que tipo de produção é desejada. Segundo ele, temos oportunidades de rendimentos altos, pela combinação de muito sol e disponibilidade de água. “Precisamos ter cuidado para não repetir o modelo de Petrolina, que privilegia os grandes produtores e, mais uma vez, não contribui para promover a inclusão social e uma melhor distribuição de renda para a região”, conclui Sachs.

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