Jeanne Farias
Esse não vai ser como os outros! Não vai para o cabo da enxada! Com essas expressões, Antonio Cavalcanti parecia vaticinar o futuro do pequeno Natalício, ao vê-lo debruçado sobre livros, num ambiente hostil aos processos educativos, ainda na década de 1910. Se estivesse vivo, Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque teria completado 100 anos no dia 27 de setembro de 2009. Tema de livros e de filme, o homem de origem simples ficou nacionalmente conhecido pela violência que sempre acompanhou a sua vida.
Migrante nordestino como tantos outros que deixavam sua terra em busca de melhoria de vida, Tenório Cavalcanti, ao longo do tempo se tornou político, advogado e jornalista, construindo sua história a partir da chegada à Duque de Caxias, povoado da Baixada Fluminense, pertencente ao município de Nova Iguaçu (RJ), para se tornar um mito. Ele foi uma lenda, construída pela força das armas, argumento mais convincente para se impor naquela região violenta.
A vida de Tenório Cavalcanti, o Homem da Capa Preta, como ficou conhecido nacionalmente, sempre foi marcada pelos embates constantes contra adversários, principalmente em decorrência da disputa pelo poder político na região. Político da escola populista, ele acabou se transformando numa espécie de Rei da Baixada, sempre ajudando aos carentes em momentos de maior necessidade, como após uma catástrofe que se abateu sobre a região, quando a sua presença foi decisiva, antecipando-se às ações do poder público, através da doação de roupas, medicamentos, alimentos e até terrenos para reconstrução das casas destruídas pelo temporal.
A origem humilde
Nascido no dia de São Cosme e São Damião (27 de setembro), santos da devoção de muitos brasileiros, o menino Natalício veio ao mundo no ano de 1909. A escolha do seu nome foi em homenagem ao padrinho, deputado Natalício Camboim. Filho do agricultor Antônio Tenório Cavalcanti de Albuquerque e da costureira Maria Cordeiro, moradores do povoado de Bonifácio, município de Quebrangulo (AL), era um menino inteligente e perspicaz. Aos cinco anos pediu ao pai para estudar, passando a ser um aluno exemplar e muito aplicado, ao ser alfabetizado, surpreendia o pai com sua capacidade de ler com tanta facilidade.
Antônio Tenório era 15 anos mais novo do que sua mulher, a quem chamava de Mariquinha. Sanfoneiro gostava muito de festas e, naturalmente, era chegado a um “rabo-de-saia”. Esses envolvimentos constantes com mulheres acabou lhe custando à vida. A versão oficial da morte do agricultor teria sido disputa de terras, fato aceito pela mulher dele, para não denegrir a sua imagem. Ao ver o pai assassinado, Natalício, aos 11 anos, jurou vingança, costume em voga no Nordeste, tipo Lei de Talião.
Um ano depois da morte do pai, envolveu-se em confusão com o filho do suspeito de ser o assassino de Antônio Tenório e foi aconselhado a esconder-se na casa do fazendeiro Felino Tenório, seu tio e um dos homens mais importantes do município de Quebrangulo. Durante o período em que esteve refugiado na casa do parente, Natalício aproveitou para ler os jornais e revistas que encontrava, o que acabou por despertar seu interesse pelas cidades grandes como o Rio de Janeiro e São Paulo. Quando a poeira baixou, ele retornou a Bonifácio, vendendo todos os seus bens, transferindo-se depois com a família – a mãe e a irmã Josefa – para a localidade conhecida como Serra da Mandioca, no vizinho município de Palmeira dos Índios, onde passou a cuidar de um armazém da família e continuar estudando, mas o sonho de viver na cidade grande não saiu de sua cabeça.
A chegada a cidade grande
Engrossando a leva de migrantes que partiam para as grandes cidades do Sul e do Sudeste do Brasil, o menino pobre, agora adolescente, chega à capital da república.
A história mostra que os migrantes que aportavam nas grandes cidades, como a do Rio de Janeiro. Chegavam exaustos e famintos. As vestes eram trapos, e as poucas bagagens que levavam, se resumiam a sacos de açúcar ou velhos baús de madeira. Nesse cenário, desembarca Tenório Cavalcanti com pouco dinheiro dado pela mãe, e uma carta de apresentação para seu padrinho. Em meio a tantos sentimentos, às vezes antagônicos, como, a esperança e a certeza do fracasso, ele não desiste de seu sonho, o persegue e é bem sucedido.
Ao chegar à cidade grande, Natalício descobre que seu padrinho encontra-se em Alagoas cuidando da campanha política. O desencontro lhe causa frustração, e ele Passa a primeira noite sob os Arcos da Lapa sem saber ainda o que fazer. Para sua sorte um conterrâneo encontra-o e o aconselha a procurar uma pensão onde pudesse deixar sua pequena bagagem e descansar da estafante viagem. Na primeira noite na pensão foi roubado, então precisou recorrer a um parente que morava distante e, com a conhecida solidariedade nordestina, deu-lhe casa e comida enquanto ele cuidava da vida.
Naquela altura, qualquer emprego era bem vindo. Foi lavador de garrafas, faxineiro no Hospital Müller dos Reis, em Santa Teresa, copeiro e zelador de pensão, porteiro de hotel e motorista de caminhão de uma loja, enquanto estudava a noite, concluindo o curso primário no Colégio Pedro II. Por intermédio do padrinho, em 1928, recebeu um convite do engenheiro Hildebrando Góis para assumir o cargo de diretor de Obras do Departamento de Portos, Rios e Canais.
Muito novo, com apenas 19 anos, precisou impor respeito para ganhar a liderança dos peões que estavam sob seu comando. Um domingo, quando estavam todos reunidos, bebendo e se divertindo, Natalício entregou seu revólver a um dos presentes, dizendo: “Atira contra meu peito hôme”, abrindo a camisa e indicando o coração. O homem relutou um pouco, mas depois respondeu: “Se você ‘tá pedindo, vou atirar”. Assim ele efetuou um disparo e depois outro, sem que nada acontecesse ao destemido alagoano, que pegou seu revólver de volta e atirou em um mamão espatifando a fruta. Em seguida ele disse: “Eu tenho é o corpo fechado e nada de ruim vai me acontecer”, o peão se assustou e retrucou: “Vixe! Isso é coisa do capeta”. Foi assim que ele ganhou fama de ter o corpo fechado por alguma mandinga muito forte. Muitos anos depois, ele confessou ter substituído as duas primeiras cápsulas de sua arma, por balas de festim, daí, ter escapado ileso.Para completar a fama do corpo fechado, Tenório rezava diariamente, ao sair de casa, uma oração aprendida em sua terra natal, que lhe dava muita confiança.
Oração pela vida
“No topo do calvário tem uma cruz. Travesseiro e cama de meu bom Jesus. A cama, de onde meu bom Jesus dormiu e se deite sobre mim. Me defenda de todo perigo. Nada contra mim, ninguém contra mim. Que meus inimigos se afastem de mim, que nenhuma bala me mate. Nenhuma faca me fira. Não me aconteça mal algum. Mal olhado não me enfraqueça e o medo não me desvaneça. Meu bom Jesus. Amém”.
O mítico Tenório Cavalcanti
Embalado pela fama de desassombrado, o nome Tenório Cavalcanti passou a ser respeitado e temido pela sua coragem extraordinária. Logo foi contratado para administrar as terras de ricos fazendeiros em Petrópolis, região de muitos conflitos, durante a construção da rodovia Rio-Petrópolis, onde a disputa por um palmo de chão era violenta. A valorização dos terrenos e as demarcações causaram conflitos e choques armados que resultaram em várias mortes, o período foi marcado por muita violência e o nome Tenório Cavalcanti ganhou mais destaque e prestígio. Seus serviços foram requisitados para prestar proteção a políticos e pessoas influentes, como foi o caso do presidente Washington Luiz, em uma visita à região.
Casamento e política
A guinada chega com a formação de uma família, e os destemperos da vida pública cercada de inimigos e violência
Com a popularidade adquirida e o ciclo de relações influentes, administrar terras alheias não tinha mais sentido, Tenório sonhava mais alto. A virada de sua vida deu-se a partir do casamento com Walquíria Lomba, moça fina e elegante, nascida na alta sociedade da região, em família de tradicional militância política, com quem teve três filhas. Assim ele deixou a antiga profissão e com a rescisão de contrato, colocou seu próprio negócio, uma loja de material de construção.
Fixando-se na Baixada Fluminense, em 1936, iniciou sua vida política, quando se filiou à extinta União Progressiva Fluminense (UPF), elegendo-se vereador pelo município de Nova Iguaçu, representando o distrito de Caxias. O carisma, o destemor e a grande visão política, fizeram dele um líder natural da região, o que passou a incomodar os “donos” do poder. Começaram então as perseguições, provocações e as tentativas de levá-lo à prisão por seu passado de envolvimento com a violência.
O Delegado Joaquim Peçanha, derrotado nas eleições de Caxias, instigado por políticos, acabou por colocar Tenório na cadeia. Ao ser libertado, Tenório sofreu um atentado que o deixou enfermo durante seis meses, o crime fora atribuído ao Delegado que, algum tempo depois, foi encontrado morto dentro de um trem. Acusado de cometer o assassinato, Tenório volta a ser preso. Após quarenta dias foi beneficiado por um hábeas corpus, foi libertado, mas impedido de voltar a Caxias, se refugiou em Alagoas.
Em 1940 foi reeleito vereador por Caxias e em 1945, terminou o curso de Direito. Chegou à Assembleia Legislativa, em 1946, como deputado estadual, cargo para o qual foi reeleito quatro anos depois. Em 1954, foi eleito Deputado Federal, obtendo nove mil votos. Na reeleição recebeu 42 mil votos. Em 1960, candidatou-se ao governo do Estado da Guanabara, recebendo duzentos e vinte mil votos, ficando em terceiro lugar, O governador eleito foi o jornalista Carlos Lacerda. No dia 13 de junho de 1964, seu mandato de deputado foi cassado por força do Ato Institucional nº 1, editado pelo Governo Militar, instalado naque ano, depois da deposição do presidente da República, João Goulart.
Lurdinha e capa preta
Dois presentes oferecidos por dois amigos, só fizeram aumentar o estilo mítico adotado pelo deputado Tenório Cavalcanti. Uma submetralhadora alemã, modelo MP-40, da segunda Guerra Mundial e uma inocente capa preta, utilizada pelos formandos de uma universidade portuguesa, criaram uma nova imagem aterrorizante do deputado. A arma foi-lhe oferecida pelo conterrâneo general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, ministro da Guerra durante o governo do presidente Getúlio Vargas, e foi apelidada de Lurdinha, pelo motorista do deputado.
A capa foi trazida por um de seus apadrinhados, cuja formação em Direito ele custeou em Portugal. Toda preta, com forro vermelho, foi utilizada pela primeira vez em um comício e a sua aparição ostentando aquela nova indumentária, deixou a platéia fascinada. Tenório passou a ser chamado de o Homem da Capa Preta, pois, jamais saía de casa sem ela, porque também servia para esconder a “Lurdinha”, como ele chamava a metralhadora, amiga inseparável.
A vida de Tenório Cavalcanti no Rio de Janeiro sempre esteve ligada à violência, e na medida em que sua liderança política prejudicava o poder de outros mandatários, sua vida e a vida daqueles que o acompanhavam, corria perigo. Para se proteger da façanha dos inimigos, Tenório Cavalcanti construiu sua casa, uma verdadeira bastilha, na avenida governador Leonel de Moura Brizola (antiga estrada Rio – Petrópolis, no centro de Caxias. Em 1964, abrigou ali os então presidente e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), José Serra e Marcos Cerqueira, além do humorista Chico Anysio e da atriz e diretora de cinema Norma Benguel, dentre outros perseguidos pela ditadura militar, que buscaram abrigo seguro.
A Bastilha
A casa-fortaleza do deputado Tenório Cavalcanti, uma construção de 3.200 metros quadrados, no centro da cidade de Duque de Caxias, possuía, ao tempo de seu famoso proprietário: gerador de eletricidade, 12 telefones, 16 alto-falantes, 14 salas e quartos, nove banheiros, dois calabouços, tanques de oxigênio e depósito de alimentos. Os portões eram de aço. Na parte superior, a parede revestida de placas de aço com vários furos, por onde poderiam sair os canos das armas de seus defensores em caso de ataques da polícia, ou por inimigos do político. Os banheiros eram interligados por passagens disfarçadas um pouco abaixo do teto, que poderiam ser facilmente alcançadas utilizando-se os lavatórios como degraus. A entrada dos calabouços era protegida por uma falsa porta-cofre que disfarçava sua real utilização.
Através de decreto sancionado pelo prefeito do município de Duque de Caxias, a antiga fortaleza foi considerada de utilidade pública para fins de desapropriação. A prefeitura pretende transformá-la em museu, guardando a memória do deputado e parte da história do município. A fortaleza abrigará também um centro profissionalizante.
Caso Imparato
O delegado especial Albino Imparato, foi destacado especialmente para conter a qualquer preço a carreira do deputado Tenório Cavalcante na baixada fluminense. Um elenco de medidas arbitrárias foi tomado pelo novo delegado que, pretendiam a todo custo prender ou mesmo matar o parlamentar em caso de confronto armado. A fortaleza foi metralhada, os amigos e parentes passaram a ser hostilizados, enquanto o delegado procurava fechar o cerco.
Dia 28 de agosto de 1953, Imparato e seu assistente Bereco foram encontrados mortos, metralhados dentro do carro que utilizavam. O caso obteve repercussão nacional, e as investigações apontavam Tenório como responsável pelos dois crimes. A fortaleza e um apartamento que o deputado possuía em Copacabana, foram cercados pela polícia. Com a intervenção dos amigos Nereu Ramos, presidente da Câmara Federal, Afonso Arinos e Oswaldo Aranha, foi possível levantar o cerco.
Sarcasmo e valentia
Eu só mato homem! Com essa frase Tenório Cavalcanti guardou o revólver que tinha em suas mãos, apontado para o Deputado Antônio Carlos Magalhães, que a essa altura tremendo de medo, foi acometido por uma incontinência urinária. O motivo da briga foi causado por acusações do parlamentar, contra Tenório, enquanto ele discursava na tribuna da casa atacando violentamente o presidente do Banco do Brasil, Clemente Mariani, acusando-o de desvio de verbas. Foi quando ACM o interrompeu e o incriminou de protetor do jogo do bicho, de lenocínio e ladrão.
Por causa desse episódio, as armas de Tenório Cavalcanti, incluindo a famosa “Lurdinha”, foram apreendidas, após a cassação de seu mandato, por intervenção direta do deputado Antonio Carlos Magalhães, ligado ao governo militar, vingando-se do fato anterior, ocorrido no plenário da Câmara Federal, quando fora ameaçado pelo homem da capa preta.
Luta democrática
Ainda em 1954, Tenório Cavalcanti veio a Alagoas, vendeu as terras da fazenda Xucurus, que possuía no município de Palmeira dos Índios, e fundou na cidade do Rio de Janeiro, o jornal intitulado “Luta Democrática”, que marcou uma nova etapa na história da imprensa no Brasil, fazendo um jornalismo popular de caráter sensacionalista. O jornal sempre fez oposição a vários governos. Durante a construção de Brasília, criticou o presidente Juscelino Kubitschek: “Enquanto isso, Brasília é o sorvedouro da renda nacional, suor e sangue de um povo empobrecido para que resplenda esse reinado da encarnação republicana de Luís XIV” (Luta Democrática, em agosto de 1958). Através do jornal ele fazia severas críticas aos seus inimigos, e abria espaço para o povo registrar suas reivindicações.
Este jornal abrigou e encaminhou bons jornalistas alagoanos que brilharam na imprensa nacional. Alguns lá chegaram espontaneamente, procurando crescer, outros foram levados por perseguições políticas. A todos, Tenório deu guarida, ajudou no que foi possível, encaminhando-os na vida profissional. Desses alagoanos que trabalharam na “Luta Democrática”, destacam-se dentre outros: Ivan Barros, que depois foi para a revista Manchete, José Alves Damasceno, José Jurandir e José Machado.
Decadência do mito
Depois da cassação e da perda dos direitos políticos, começou o declínio do Homem da Capa Preta, ele, que já exercia tanto poder sobre sua região pelo trabalho assistencial que desenvolveu durante vários anos, e chegou a ser chamado de o Rei da Baixada Fluminense. Era amado pelo povo que ajudou, e odiado pelos adversários políticos que queriam ver o seu fim.
O exercício de sua atividade política era baseado nas relações pessoais, os interesses giravam em prol do favorecimento de pequenos grupos. Durante toda sua vida ativa, tratou muito bem dos necessitados, dando-lhes tudo o que era preciso, substituindo, por vezes, as obrigações do poder público, quando se antecipava às ações, nos casos de calamidades.
O desinteresse pela política veio a partir da derrota sofrida na disputa pelo governo do Estado da Guanabara, quando teve de amargar um terceiro lugar na votação. Em seguida, a cassação do mandato de deputado federal, e a perda dos direitos políticos, parecem ter sepultado os seus anseios políticos.
Crime do Sacopã
Como advogado Tenório Cavalcanti atingiu o auge quando assumiu a defesa do tenente Alberto Jorge Franco Bandeira, acusado de assassinar o bancário Afrânio Arsênio de Lemos, ex-funcionário do Banco do Brasil, fato ocorrido em abril de 1952, tendo como figura central a jovem Marina Andrade Costa, então namorada do oficial. Este caso, conhecido nacionalmente como “O crime do Sacopã”, graças à cobertura jornalística através da revista “O Cruzeiro”, mobilizou a atenção do país inteiro durante muito tempo.
Condenado 15 anos de prisão a ser cumpridos na Penitenciária Central do Rio de Janeiro, o tenente Bandeira foi para o presídio protestando inocência, sem que pudesse provar suas alegações. Tempo depois, Tenório Cavalcanti conseguiu reabrir o caso tentando provar a inocência de Bandeira, e colocá-lo em liberdade condicional. Em 1972, o Supremo Tribunal Federal anulou o julgamento por falhas jurídicas. O crime prescreveu em 1975, e Bandeira nunca voltou a julgamento.
Deputado pistoleiro
O jornalista David Nasser, da revista “O Cruzeiro”, edição de 15.10.1960, tece críticas sobre a vida violenta de Tenório Cavalcanti, cita seus crimes de morte, chamando-o de “Deputado pistoleiro”. Em carta ao jornalista, Tenório rebateu suas acusações. A seguir, trecho da resposta do parlamentar:
“Um menino que injúria, você David, fustiga-me e me provoca, como se eu gostasse de rinha. Diz que não tem mêdo de mim, e eu me rio e passo, gozando a injúria da criança e gostando da sua coragem, porque o corajoso não me atemoriza e, sim, o que tem mêdo. “O homem que mais me apavorou não foi o que me descarregou o revólver “Colt” de frente, e a quem abati em luta limpa. Mas um covarde que fêz, da tocaia, a cama. O corajoso disputou a vida como homem. O covarde armou-me 14 emboscadas. O primeiro foi esquecido. Teve enterro, mas não teve um pedestal na opinião dos que me acusam; o segundo foi imortalizado como vitima”.
Entrevistas e livros
O repórter Arlindo Silva, da revista “O Cruzeiro”, publicou em 1954, uma reportagem seriada, intitulada “Memórias de Tenório Cavalcanti”, contando desde sua origem até a vida política na Baixada Fluminense, construída a ferro e a fogo. O entrevistado abriu seu coração e contou tudo, confessando até que aos 47 anos de idade carregava 47 ferimentos de bala espalhados pelo corpo. Aceitou discutir casos polêmicos como a morte do delegado Imparato, apresentando elegantemente as suas versões, quase sempre contestadas pelos adversários políticos.
A figura fascinante de Tenório Cavalcanti foi contada ainda por suas filhas Maria do Carmo Cavalcante Fontes (“Tenório - O Homem e o Mito" - 216 páginas, Editora Record) e Sandra Cavalcanti Freitas Lins ( “Meu Pai, Tenório”) e por Israel Beloch no ensaio "Capa Preta e Lurdinha - Tenório Cavalcanti e o povo da Baixada", (desenvolvida como dissertação de mestrado). Tenório Cavalcanti faleceu no dia 7 de maio de 1987, em sua residência, no Rio de Janeiro, vitimado por uma pneumonia.
A biografia no cinema
O filme “O Homem da capa preta”, de Sergio Rezende (1986), estrelado por José Wilker, mostrou ao Brasil moderno a personalidade de Tenório Cavalcanti, um tipo de líder político da metade do século passado, que marcou época, deixando seu nome gravado na história do Rio de Janeiro, especialmente, na área conhecida como Baixada Fluminense, onde mandou e desmandou por quase 30 anos. Após assistir ao filme sobre sua vida, fez o seguinte comentário: Tá um pouco exagerado, mas cinema é assim mesmo.
O centenário
O centenário de nascimento de Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, ocorrido no ano de 2009, foi comemorado especialmente em Palmeira dos Índios, terra que o acolheu ainda muito jovem, e de onde saiu para tornar-se famoso no Rio de Janeiro e uma figura polêmica que sempre despertou discussões por todo o país.
Em Palmeira dos Índios as comemorações tiveram como ponto alto durante a sessão solene realizada na Casa Museu Graciliano Ramos, a presença de várias autoridades e convidados especiais, como, duas das filhas do homenageado, Vilma Tenório, residente no Rio de Janeiro, e Amparo Tenório Cavalcanti que reside em Maceió, além de sobrinhas e netas do político. O jornalista Laurentino Veiga, presidente da Associação Alagoana de Imprensa, incumbiu-se da palestra sobre a vida e a obra de Tenório.
A Câmara Municipal de Duque de Caxias, através de uma sessão especial realizada no dia 6 de maio, também homenageou Tenório Cavalcanti considerado um ícone na história política brasileira. O evento contou com palestra da professora de história Marlucia de Souza e ainda com uma mostra de imagens e objetos que pertenceram ao político alagoano e que ficaram expostas à visitação pública, no Instituto Histórico da Câmara Municipal.
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